sábado, 27 de fevereiro de 2010

Quem era terrorista?

À falta de outros argumentos e propostas, com um mínimo de consistência, os opositores reiteram a imagem de “terrorista” de Dilma.

Quem era terrorista: a ditadura militar ou os que lutávamos contra ela? Dilma estava entre estes, o senador José Agripino (do DEM, ex-PFL, ex-Arena, partido da ditadura militar), entre os outros.

O golpe militar de 1964, apoiado por toda a imprensa (com exceção da Última Hora, que recebeu todo o peso da repressão da ditadura), rompeu com a democracia, a destruiu em todos os rincões do Brasil, e instaurou um regime de terror – que depois se propagou por todo o cone sul do continente, seguindo seu “exemplo”.

Diante do fechamento de todo espaço possível de luta democrática, grandes contingentes de jovens passaram à clandestinidade, apelando para o direito de resistência contra as tiranias, direito e obrigação reconhecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Enquanto nos alinhávamos do lado da luta de resistência democrática contra a ditadura, os proprietários das grandes empresas de comunicação – entre eles os Frias, os Marinhos, os Mesquitas -, os políticos que apoiavam a ditadura – agrupados na Arena, depois PFL, agora DEM, como, entre tantos outros, o senador José Agripino –, grandes empresários nacionais e estrangeiros, se situavam do lado da ditadura, do regime de terror, da tortura, dos seqüestros, dos fuzilamentos, das prisões arbitrárias, da liquidação da democracia.

Quem era terrorista? Os que lutavam contra a ditadura ou os que a apoiavam? Os que davam a vida pela democracia ou os que se enriqueciam à sombra da ditadura e da repressão? Os que apoiavam e financiavam a OBAN ou aqueles que, detidos arbitrariamente, eram vitimas da tortura nas suas dependências, fuzilados, desaparecidos?

Quem era terrorista? José Agripino ou Dilma? Os militares que destruíram a democracia ou os que a defendiam? Quem usava a picanha elétrica, o pau-de-arara, contra pessoas amarradas, ou quem lutava, na clandestinidade, contra as forças repressivas? Quem era terrorista: Iara Iavelberg ou Sergio Fleury? Quem estava do lado da Iara ou quem estava do lado do Fleury? Dilma ou Agripino? Quem estava na resistência democrática ou quem, por ação ou por omissão, estava do lado da ditadura do terror?

Postado por Emir Sader / Blog do Emir / Agência Carta Maior  

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

IBOPE E VEJA - GATO POR LEBRE

Laerte Braga

Em 1998, Augusto Montenegro, dono do IBOPE, o braço do grupo THE GLOBE no campo de pesquisas de opinião pública, afirmou a vários jornalistas que se Christóvam Buarque de Holanda não fosse reeleito governador de Brasília, segundo turno, disputa com Joaquim Roriz, ele rasgaria seu diploma de pesquisador.

Christóvam perdeu. Montenegro continua fazendo pesquisas e vendendo empulhação aos brasileiros.

Há alguns atrás o dono do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão, Sílvio Santos, desconfiou das pesquisas do IBOPE em torno dos níveis de audiência das redes nacionais de televisão. Contratou um outro instituto e os desníveis entre os resultados de um e outro eram de tal ordem que, Sílvio Santos denunciou que o IBOPE trabalhava com cartas marcadas, num sistema que consistia em instalar uma aparelhinho em alguns televisores em São Paulo, aparelhinhos esses capazes de determinar que canal estava sendo assistido. As pessoas aquinhoadas com o tal aparelhinho recebiam por isso.

O modo GLOBO de fazer as coisas. Comprar, quando não é possível chantagear ou esfolar.

As últimas pesquisas de opinião sobre índices de audiência das redes de tevê mostram uma queda sistemática da audiência da GLOBO, isso em termos anuais. São perdas constantes. O dado foi relevado, mostrado, pouco discutido, omitido pela empresa, mas um ou outro aspecto importante deixou de ser apresentado. A audiência da GLOBO cai ano a ano, no todo da programação e na média, enquanto aumenta o número de aparelhos desligados.

Tudo isso foi constatado pelo IBOPE. Daí a política de uma programação apelativa, mais ou menos como a rede fez no início de sua trajetória, na procura de um espaço para crescer.

Augusto Montenegro disse que José Collor Arruda Serra está eleito presidente, levando em conta os dados da última pesquisa.

Embuste puro. A simples exibição ou divulgação dos percentuais não mostra a totalidade do significado da pesquisa. Dilma Roussef subiu oito pontos e Serra caiu. Dilma começa a crescer de forma espantosa no Norte, Nordeste e Cetro-Oeste do País, onde bate Serra tranquilamente e registra crescimento na parte européia/norte-americana do Brasil, Sul e Sudeste. Não registra, no entanto, que para vencer as eleições José Collor Arruda Serra precisa, primeiro, vencer batalhas entre seus próprios aliados, temerosos que o candidato continue em queda e não consiga reverter a situação, até levando em conta que Dilma terá tempo maior na tevê.

Boa parte dos políticos regionais do DEM e mesmo do PSDB já deixaram claro que não vão se empenhar pela candidatura de Arruda Serra, mas salvar suas próprias peles.

E há o fator Minas Gerais. O segundo maior colégio eleitoral do País é um desafio para Arruda Serra (careca e carequinha). As desesperadas tentativas de seduzir o governador Aécio Neves para aceitar ser vice do paulista podem produzir efeito contrário. Boa parte do eleitorado mineiro começa a se deslocar da intenção de voto em Arruda Serra para o voto em Dilma. Se Aécio aceitar o acordo transforma-se numa barata que vai ser esmagada no dia seguinte ao da eleição. Se não aceitar sobrevive e para sobreviver já percebeu que precisa dar as costas a Arruda Serra. É briga de foice no escuro como se diz em Minas.

Para vencer, Arruda Serra precisa ter pelo menos 70% dos votos em São Paulo, o que parece improvável (nem vai mais às ruas temendo vaias) e ganhar em Minas com boa diferença (outra dificuldade). Setores do próprio DEM mineiro já disseram que vão com Aécio e ir com Aécio significa não ir com Serra. Pelo menos até agora.

O crescimento da candidatura Dilma Roussef no Nordeste, Norte e Centro-Oeste do País faz com que candidatos a deputado estadual, deputado federal e senador (duas vagas) nos estados dessas regiões comecem a falar "não vou carregar um caixão", aludindo à candidatura Arruda Serra. O candidato da Casa Branca perde nos três maiores contingentes eleitorais do Nordeste, Bahia, Pernambuco e Ceará.

Outro complicador e dos grandes, é o Rio Grande do Sul. Estado de forte presença das forças de direita e um perfil eleitoral complicado, eleições sempre apertadas, Arruda Serra enfrenta o problema Yeda Crusius. A governadora, até agora, não desistiu de ser candidata à reeleição, vive as mesmas dificuldades que Arruda (só não está presa, mas a hipótese não pode ser descartada) e o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, tem todas as chances de ser o próximo governador. É um expressivo contingente eleitoral em termos de Brasil. A candidatura de Dilma Roussef cresceu no estado.

O ex-governador Olívio Dutra (seria o candidato ideal do PT) deve disputar o Senado e levar uma das vagas, o que agrava, mais ainda, as dificuldades de Arruda Serra.

Daí o empenho de Augusto Montenegro em tentar criar um fato consumado, a vitória de Arruda Serra, tal e qual fez diversas vezes não no seu papel de presidente de um instituto de pesquisas, mas de um braço do marketing tucano/DEM, sob a batuta da REDE GLOBO, principal cabo eleitoral de Arruda Serra.

Como coadjuvante a revista VEJA sai neste fim de semana com a ministra Dilma Roussef na capa. Dá conta de sua aceitação no PT, enquanto resvala nas análises para o jogo sujo sobre o passado de Dilma. Ter sido guerrilheira.

Nem uma palavra sobre Arruda Serra ter sido presidente da UNE, pertencer a grupos radicais de esquerda e quando preso no Chile, ter sido salvo (seria executado no estádio Nacional) por interferência direta do embaixador brasileiro (época da ditadura), a pedido de seu amigo Fernando Henrique Cardoso. FHC àquela época era o falso exilado. Vendia o peixe da esquerda para o distinto público, recebia dinheiro norte-americano da Fundação Ford e gozava de todas as regalias de "general" Anselmo. Ou seja, figura comprada pelos que controlavam e controlam ainda boa parte das forças armadas brasileiras (os norte-americanos).

As afirmações de Montenegro, a capa de VEJA e o conteúdo da matéria sobre Dilma dão a dimensão do que a candidata do PT vai enfrentar no curso da campanha eleitoral. A sórdida campanha de dossiês e "caravanas da cidadania" globais, que englobam toda a grande mídia brasileira, na tentativa de eleger a qualquer custo o candidato da Casa Branca, José Collor Arruda Serra.

Se FHC é um pobre coitado que vive hoje o dilema de não ser nada, apenas ex, o político brasileiro mais rejeitado (mais que Maluf por exemplo), José Collor Arruda Serra é o que há de mais repugnante em matéria de político e repulsivo como pessoa.

Quando João Pedro Stédile, numa entrevista lúcida durante o Fórum Social Mundial falou da necessidade de "reflexão" sobre o momento político sobre o Brasil, não estava dando nenhum passo atrás como pretendem setores irracionais da esquerda do quanto pior melhor (a política das pequenas seitas partidárias e do movimento social).

Eleições não vão transformar o trabalhador brasileiro em senhor do seu destino. Nem vão promover as mudanças necessárias para que o Brasil seja um gigante de pé sem riscos de retrocesso.

Mas José Collor Arruda Serra é um retrocesso e por isso mesmo João Pedro disse que o MST é "contra Serra", quando perguntado se o movimento era a favor da candidatura Dilma Roussef.

IBOPE e VEJA como que deram a partida na mídia do processo eleitoral. A preliminar. O gigante do "negócio", da "mentira" ainda vai entrar em campo, está no aquecimento, falo da REDE GLOBO.

Quem quiser ver a íntegra da pesquisa do IBOPE, as entrelinhas que a turma esconde, é só dar um pulo em

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=124420&id_secao=1

Que num trabalho de Bernardo Joffilly vai encontrar tudo explicadinho, os dados reais do próprio IBOPE (pesquisas são registradas de acordo com a lei) que desmentem o presidente do IBOPE. Lá tem até mapinha com os dados do IBOPE.

O que é redundância. Desmentir Montenegro. Não fala a verdade e nem sabe o que isso.

A propósito, o distinto cidadão já procurou saber a historinha real do controle remoto no Brasil? Do empenho de Roberto Marinho junto aos ditadores para que o aparelhinho fosse proibido durante um largo período por aqui para evitar exatamente que o telespectador não tivesse que levantar para trocar de canal? Ou seja, aceitar resignado a GLOBO?

E o cara era chamado de paladino do progresso. Mas só dele.

Fonte: Grupo Cidadania Brasil

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Entrando pelo Tube

Por Luciano Pires*

Dois acontecimentos interessantes marcaram a passagem de 2009 para 2010: o caso de Geisy Arruda, a garota que foi à escola com um vestidinho e quase foi linchada e o comentário de Boris Casoy sobre os garis na televisão, que foi ao ar sem que ele percebesse.

O mundo quase caiu sobre Geisy, que no final acabou se dando muito bem, transformada numa quase celebridade em programas de televisão. Mas caiu mesmo foi sobre o Boris, que teve seu passado revolvido por todos aqueles que já não gostavam dele ou ficaram indignados com o comentário. Bem, já escrevi sobre esses assuntos. Vá ao Google e procure por "Os Neocaretas" e "Eribertos e Francenildos".

O que me interessa agora é refletir sobre a forma como esses assuntos ganharam relevância nacional.
Veja só: o caso da Geisy ficou restrito aos alunos que testemunharam o bafafá na escola, a Uniban. Só explodiu cerca de um mês depois do incidente, quando os vídeos foram parar no Youtube e começaram a repercutir em diversos blogs. Dali a coisa pulou para os jornais, rádios, televisões e... pronto!

No caso do Boris, embora o comentário tenha ido ao ar em rede nacional, está quase inaudível. Foi feito durante a exibição de uma vinheta do noticiário que ele apresenta na TV Bandeirantes. Pouca gente viu e quem viu não ouviu direito. Mas alguém gravou, legendou e colocou no Youtube. Pronto! Um milhão e meio de visitas ao vídeo em uma semana!

Onde quero chegar? Simples: nenhum desses dois casos tomaria proporção nacional sem a internet. Nenhum causaria comoção sem os vídeos no Youtube. E quem é que produziu os vídeos? O da Geisy foram estudantes filmando com celulares. O do Boris foi alguém que capturou da televisão, com cuidados técnicos mínimos. Custo de produção? Zero. Qualidade de produção? Nenhuma. Investimento em divulgação? Nicas. Custo de distribuição? Nada.

Neste novo mundo, qualquer um pode provocar um impacto imenso na sociedade. Basta capturar conteúdo relevante. O resto a internet faz... São bilhões de celulares, máquinas fotográficas e filmadoras digitais. Milhões de computadores com softwares simples de edição. Bilhões de conexões com a internet. Você já parou para refletir sobre o poder que cada um de nós passa a ter num contexto como esse? Basta capturar algo relevante.

Comentei em outro artigo que a definição de "relevância" - numa sociedade em que Platão perde para o Latino - é relativa. "Relevância" hoje em dia tem muito mais a ver com o espetáculo e a ideologização dos discursos do que com qualquer outra coisa. Mas a televisão que tratou a internet como besteira, capitulou. Entendeu que precisa desse conteúdo "relevante". A cada dia mais e mais imagens tecnicamente horrorosas da internet ocupam espaço na televisão.

O apuro técnico dá lugar ao conteúdo. Infelizmente focado em sexo, morbidez e "pegadinhas".
Talvez seja esse o preço do deslumbre, da transição que vivemos neste início da maior revolução que a humanidade já experimentou: qualquer um pode ser escritor, diretor, fotógrafo, artista. E pode ser visto!
Não existem mais segredos. Nada pode ser apagado da memória. Tudo fica disponível.

Tenho a esperança que um dia, passado o deslumbre e mantida a liberdade de acesso, esse conteúdo seja nutritivo.

*Luciano Pires é jornalista, formado pelo Mackenzie. Com 26 anos de profissão, atuou como cartunista, executivo de multinacional, colunista de sites, revistas e jornais, além de produtor e apresentador do programa Café Brasil na rádio Mundial FM (95,7 FM) em São Paulo e comentarista do Transnotícias, programa da rádio Transamérica. Luciano é palestrante e autor dos livros "O Meu Everest" (2002), "Brasileiros Pocotó" (2003), "Nóis.. qui invertemo as coisa" (2009). O jornalista também mantém o site (www.lucianopires.com.br).

Fonte: Portal Comunique-se

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Nobreza de araque e ladrões engravatados


Um dos artifícios de proteção dos mais ricos e influentes é o de chamar furtos, apropriações indébitas e coerções de crimes de ‘colarinho branco’, isto é, os que são cometidos pelas autoridades de Estado e pelos burgueses engravatados. 

Há quem ache estranho a dificuldade brasileira de se tratar pessoas que ocupam cargos públicos mais elevados ou dispõem de grandes recursos financeiros como se fossem cidadãos comuns. Estes últimos, isto é, a maioria, quando cometem crimes são processados, presos e tem que responder pelos seus atos. Se forem mais pobres ou mais negros são logo enviados para presídios e outros depósitos de gente, sob as penas da lei. Não raro, são executados nas ruas, antes de viverem seus infernos judiciais e prisionais. Os valores e as propriedades das elites, bem como a cor da pele e o pertencimento a famílias ou grupos políticos e sociais influentes garantem maior impunidade.

O mesmo crime tem respostas estatais diversas. Um dos artifícios de proteção dos mais ricos e influentes é o de chamar furtos, apropriações indébitas e coerções de crimes de ‘colarinho branco’, isto é, os que são cometidos pelas autoridades de Estado e pelos burgueses engravatados. Diferenciando-os por meio de um nome pomposo, tem-se pronta uma estratégia para encobri-los. Os mecanismos reais existentes, usados pela velha máquina de Estado, estão muito distantes do edifício das leis e normas processuais. Vários procuradores e juízes democratas e defensores da virtual cidadania brasileira fazem sua parte. Tentam conseguir que a lei seja cumprida com equidade e que as elites sejam punidas. Há, felizmente, juízes que decidem respeitando a lei e o consenso crítico da população. Outros agem em sentido contrário, derrubando decisões, usando as tecnicalidades jurídicas para ofender o senso básico da racionalidade e da moralidade etc. Em suma, ajustando-se as situações encontradas aos interesses políticos e sociais que se escondem nas sombras do mesmo Estado.

Quando ocorre o recolhimento à prisão de um banqueiro que roubou milhões e a condenação de autoridades que participavam na mesma quadrilha, isto ganha as manchetes da grande imprensa. O espanto é porque tal fato consiste em algo inusual no Brasil. Os pequenos progressos dos direitos de cidadania são comemorados pelos democratas do país e odiados pelas elites. Estas gostariam de jamais serem condenadas por nada. Afinal, prisão é para pobre, preto e para quem mora longe. Por isso, eles usam dos seus privilégios para não irem para cadeia, mesmo condenados ou pegos em fragrante delito. Quando isto ocorre, a explicação está, por exemplo, na existência de um confronto entre o Estado e o criminoso ou um clamor social latente que chega de algum modo às grandes e pequenas mídias, pressionando nesta direção.

Na letra da lei, todos são iguais. Na prática da mesma, alguns são menos iguais do que outros. Nada disto é novo. Repete-se melancolicamente há muito tempo, remontando às origens do Estado e da Sociedade no Brasil. Todos sabem que é assim e muitos acreditam que assim sempre será. Isto se relaciona ao fato de que os compromissos assumidos nas mudanças históricas do país jamais foram rasgados. Mudar sem que as estruturas de poder sejam alteradas em profundidade é um mandamento do devir brasileiro. A impunidade das elites é coisa antiga que vem se renovando e se readaptando às novas circunstâncias que se colocam em cada contexto.

Ainda existem traços nobiliárquicos na formação social brasileira. A ocupação de altos postos de Estado é entendida como uma bruta ascensão social, política e ideológica. Estar neles por ter sido eleito ou por pertencer a uma das complexas clientelas do poder é compreendido por alguns como um salvo-conduto. Isto inclui fazer o que se bem entende, inclusive furtar o erário público ou intermediar a ação de empresários ladrões, lucrando por fora. Essas pessoas acham que a lei é para os outros e não se aplica ao comportamento daqueles que são um simulacro de nobreza togada. Esses pseudonobres, mesmo que sejam simples ladrões, contam com a pompa e a circunstância de seus cargos, suas relações de influência e os privilégios dados a eles pela própria legislação. São nobres de araque. Todavia, eles têm poder de fato e incontáveis meios de se proteger.

O Império e a ordem nobiliárquica da época foram derrubados, em 1889. O governo de Pedro II, apesar de esforços dos seus entusiastas, jamais poderá ser apartado do passado escravista brasileiro. Mesmo tendo mandado sua filha assinar o decreto da Abolição, a velha monarquia não poderá apagar sua forte ligação com a velha instituição escravista, em crise no mundo da época, muito antes de chegar ao fim no Brasil, em 1888. O golpe de Estado militar que inauguraria a república viria um ano e meio após. Os velhos barões imperiais transformaram-se na classe de proprietários de terra, agora sem escravos no velho sentido. Contudo o poder da terra conferiu a eles algo similar ao antigo poder nobiliárquico. As coisas mudaram, mas não muito. A terra não foi repartida e dada aos escravos, bem como lhes foi negada a instrução básica.

Foi no governo de Pedro II que as bases do Estado brasileiro foram assentadas, bem como alguns aspectos da vida social, política e cultural do Brasil, de alguma forma ainda presentes. A partir daí, todas as reformas que ocorreram nos últimos cento e cinqüenta anos se desenvolveram nos limites deste quadro, nunca inteiramente superado. Por aqui, como em toda parte, o passado dá um jeito de se manter no presente e influir no modo que a história segue seu curso. A luta pelos direitos coletivos e individuais de cidadania continua, como nunca, bastante atual.

Luís Carlos Lopes é professor e autor do livro "Tv, poder e substância: a espiral da intriga", dentre outros

Fonte: Agência Carta Maior

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Classe "C" vai ao paraíso!



Os resultados estão aí, brotando do fundo da sociedade brasileira: entre 2003 e 2005, 27 milhões de pessoas mudaram de patamar social no Brasil, ascendendo para uma condição social superior, mais digna e mais humana. Também a desigualdade regional foi atacada e recuou nos últimos cinco anos. O Nordeste cresceu a um ritmo “chinês” atingindo 7.7% ao ano. Mesmo sofrendo os efeitos da crise, o país foi capaz de oferecer oportunidades e esperança de vida melhor para 91 milhões de brasileiros. O artigo é de Francisco Carlos Teixeira.
“Vejam essa maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu para este Carnaval”

(Aquarela Brasileira, Silas de Oliveira, Império Serrano, 1964).

A Fundação Getúlio Vargas (Rio), através do seu Centro de Políticas Sociais, publicou uma recente pesquisa na qual vemos a chamada classe “C” – aquelas pessoas cujos lares recebem entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por mês – tornarem-se 49.22% do total da população brasileira. Houve, na verdade, um salto fantástico: em 2003 eram 37.56% da população, passando em 2008, para 49.22% do total de brasileiros. Podemos acreditar que não fosse a crise econômica mundial de 2008/09 este coeficiente seria bem mais alto.

A luta contra as desigualdades
Qual o verdadeiro significado destes números? Simples e direto: a desigualdade social foi, em cinco anos, reduzida drasticamente. Mesmo com um crescimento baixo, mesmo sofrendo os efeitos da crise (nem ”marolinha”, nem tsumani!) o país foi capaz de oferecer oportunidades e esperança de vida melhor para 91 milhões de brasileiros. Para tornar mais claro o impacto podemos citar um jornal que não pode ser, de forma alguma, considerado “chapa-branca”, O GLOBO: “... essa migração em massas alterou o rumo da divisão historicamente desigual do bolo no Brasil...”.

Desde os anos '30, do século XX, quando a Questão Social deixou de ser caso de polícia e virou desafio do Estado, a discussão sobre os métodos de sanar as justiças sociais tem sido o centro do debate político no país. Durante os anos '30, de 1930 até 1945, Getúlio Vargas acreditou que o autoritarismo político, a repressão, e um jogo dual entre patrões e trabalhadores seriam o suficiente para alterar a injusta divisão social do país. Foram dados, então, passos enormes, se comparamos com o imobilismo e a repressão vigente na República Velha (1889-1930). Justiça do Trabalho, sindicalismo oficial, CLT forma passos de refundação da Questão Social no Brasil. Porém, o autoritarismo político, a perseguição da esquerda não varguista e o atrelamento ao Estado constituíam o lado quase oculto da “dádiva” varguista.

Após a estagnação de Dutra – de quem Pablo Neruda disse ter “ojos de cerdo” – voltou-se, ainda com Vargas, agora entre 1951-1954, para um modelo mais descomprimido de distribuição social. Ainda aí o Estado foi o agente básico da justiça social, estabelecendo o salário mínimo como referência de justiça (o então ministro do trabalho, Joao Goulart, dará um aumento de 100% do mínimo, despertando a ira da classe patronal. No Primeiro de Maio daquele fatídico ano de 1954 o salário mínimo era descongelado, para horror das associações patronais. Abriu-se aí a crise cujo desfecho será um tiro solitário num dos salões do Palácio do Catete, em agosto de 1954.

1954 contra 1964
Com um tiro no peito, Getulio adiou em 10 anos o golpe da UDN: os políticos de direita do país, cansados de perder as eleições e a escolha popular, e com calos nos dedos de tanto bater à porta dos quartéis (expressão do amigo, Marco Aurélio Garcia!) foram enfim atendidos. Deu-se, então, o Estado Novo da UDN. Uma “santa aliança”, quer dizer bendita pela Igreja organizada nas “Marchas da Família com Deus pela Liberdade ( ou seria pela Propriedade?)”, entre empresários, mídia, classe média (assustada, com a maré montante de um jovem proletariado urbano).

Desde 1964, todos se reuniram em torno da ditadura civil-militar (não podemos esquecer a participação, o apoio civil – os governadores eleitos do Rio, São Paulo e Minas Gerais eram as lideranças do Golpe - e das entidades ditas “de classe”, quer dizer patronais) ao regime que durou de 1964 até 1985.

Mesmo aí, as classes patronais ficaram insatisfeitas com os rumos da Questão Social: os sindicatos dos trabalhadores estavam amordaçados, suas direções presas, exiladas ou ainda pior... Arrocho salarial, reforma regressiva da CLT, fim da liberdade de expressão, etc... eram as marcas do novo regime. Mas, após o surto liberal – Roberto Campos, ex-embaixador nos EUA, assumiu o ministério do Planejamento e em nome do combate à inflação reduziu drasticamente os direitos dos trabalhadores! – os próprios militares foram tomados de uma febre nacionalista e desenvolvimentista.

Malgrado a repressão, brutal entre 1969 e 1978, anos de chumbo, anos de terror (onde mais uma vez os civis tiveram um papel central, como na Operação Oban), vários setores da ação do Estado foram fortalecidos e alguns programas sociais foram montados, tais como o Estatuto da Terra (1964 ) e o Funrural (1967). Trata-se, é claro, de medidas preventivas, visando esvaziar o movimento social, e não a fim de atendê-lo. Contudo, mesmo isso, migalhas da mesa do “Milagre Brasileiro”, era demais para as “classes patronais”.

Democratização e Imobilismo
Pegando carona, de forma imoral, posto que só elas lucrassem com a ditadura, estes mesmos setores embarcaram na luta pela democratização. Inscreveram, aí, ao lado das exigências básicas da população, uma enorme lista de ações que deveriam reduzir o Estado, transformá-lo em Estado Mínimo. Acusavam os militares de “estatismo”. Eram dados os exemplos de Thatcher ou Reagan, os teóricos da chamada Escola de Chicago, the chicago's boys, para “consertar” o país. Um país que nunca dera escola às suas crianças, onde a fome batia à porta de milhões (salve, salve, Betinho!), onde faltava água limpa e esgoto corrente, deveria ter seu Estado reduzido ao mínimo.

As exigências (neo)liberais, em tal contexto, assemelham-se, nos países pobres, ao genocídio puro e simples. O Consenso de Washington seria, em verdade, economizar em escolas, em merenda escolar, em estradas, em hospitais para, em fim, pagarmos a dívida sem risco para os fundos de pensões norte-americanos e europeus. Nossa elite aplaudiu. Aplaudiu a maior transferência de renda regressiva da história, canalizando o fruto do trabalho dos povos do hemisfério sul para as economias centrais do capitalismo.

Contudo o projeto de modernização autoritária e regressiva faliu. Deu-se a crise do petróleo. A crise da dívida externa. A crise dos preços das commodities – da re-inteiração da condição colonial. O movimento social, autônomo desde as greves do ABC, em 1980, fortemente ancorado numa opinião pública exigente e crítica baniu, em um final melancólico, o regime autoritário.

Esperanças e Frustrações
A redemocratização trouxe grandes esperanças. Principalmente a idéia generosa que os direitos cívicos não mais se resumiam em votar e ser votado, em poder exprimir sua crítica presa na garganta, em gritar o grito daqueles desde sempre sem voz. A redemocratização do Brasil, no início dos anos '80 do século XX – bem como de toda a América do Sul – exigia os direitos cívicos básicos e muito mais. Cidadania era, então, um conceito expandido, alargado para abranger educação, saúde, moradia, transporte e, mais além, igualdade social, racial, de gênero e de opção sexual.

Contudo, desde a reunião da Assembléia Nacional Constituinte, a direita tradicional e a nova direita liberal uniram-se, no chamado “Centrão”, para paralisar as reformas necessárias. E aí vivemos anos seguidos de incompetência – governos Sarney, Collor e Itamar – somados aos anos de reformas regressivas, na Era FHC. Esta se inicia, no próprio discurso de posse do Presidente FHC, prometendo encerrar a “Era Vargas”. Ora, o que seria a “Era Vargas”? Tratava-se, em verdade, de impor o Estado Mínimo, aceitar a captura do Estado pelos interesses privados, acobertados pela instituição de agências reguladoras, a ameaça de um Banco Central dito “independente” (mas, constituído de personagens saídos e chegados da grande banca) e a total ausência de qualquer política pública de desenvolvimento, emprego ou trabalho. O fundamentalismo monetário, o medo pânico de destruir uma arquitetura de controle da inflação tão frágil que qualquer solavanco de crescimento do PIB poderia derrubar o Plano Real. Era como o médico que para extinguir a febre mata o paciente. Acreditava-se que o país, para controlar a inflação, não poderia crescer. Inflação ou crescimento: este era o falso dilema do liberalismo.

Rompendo com o passado
A vitória do Partido dos Trabalhadores veio exatamente romper, como no caso do nó górdio, o dilema. A questão é: como crescer, como erradicar a desigualdade social, sem inflação? O papel do Estado como condutor do processo, a criação de políticas corretivas das desigualdades sociais e regionais, bem como olhar o povo como cidadão, e não como mão de obra fácil e disponível, eis a resposta proposta desde 2003. Tudo isso recusando o autoritarismo e o paternalismo. Não se tratava de “encerrar a Era Vargas”. Tratava-se de ir mais além!

Os resultados estão aí, brotando do fundo da sociedade brasileira: entre 2003 e 2005, 27 milhões de pessoas mudaram de patamar social no Brasil, ascendendo para uma condição social superior, mais digna e mais humana. São novos consumidores, que exigem seus direitos sociais expandidos: “... os anos 2000 permitiram ao [novo] consumidor não só comprar, mas escolher o produto com que mais se idêntica” (O GLOBO, 7/02/2010). Também a desigualdade regional foi atacada e recuou nos últimos cinco anos: segundo Marcelo Néri, o Nordeste – aquele mesmo Nordeste de personagens como Baleia, de Graciliano Ramos ou do “lobisomem amarelo” (o homem atingido pelas doenças) de José Lins do Rego – cresceu a um ritmo “chinês” atingindo 7.7% ao ano.

Em suma: vivemos num país melhor, mais justo e menos desigual.

Francisco Carlos Teixeira Da Silva, professor da UFRJ, é autor, com Maria Yedda Linhares, de “Terra Prometida: uma história da questão agrária no Brasil”.


Fotos: "Casamento na Roça", de Portinari

Fonte: Agência Carta Maior
 

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

UMA GUERRA NÃO DECLARADA – BRUTAL E VIOLENTA

Por Laerte Braga

O que leva um país como a Colômbia a aceitar a presença de militares estrangeiros em seu território? A luta contra o narcotráfico? Ora, o presidente do país iniciou-se na política pelas mãos de Pablo Escobar, um dos maiores traficantes de todos os tempos. É apoiado por grupos paramilitares formados a partir de mercenários (assassinos profissionais) e financiados por latifundiários e grandes empresários, com profundas ligações com o tráfico de droga.

Os relatórios do Departamento antidrogas do governo dos EUA, que acusavam Álvaro Uribe de ligações com o tráfico, sumiram depois de divulgados pela mídia norte-americana. Foi decisão do governo do presidente George Bush. Mais importante que o combate às drogas é a ocupação militar da Colômbia de olho na Amazônia, nas reservas de nióbio (mineral estratégico para armas nucleares, foguetes e aviões) naquela região, de urânio e na necessidade de impedir governos que se oponham ao controle norte-americano prosperem ou consolidem a independência real de países como a Venezuela.

Os Estados Unidos têm a maior dívida pública do mundo. É impagável e o modelo capitalista só faz acentuá-la. A única forma do império sustentar-se é na política de guerras e conquistas, saques, processo de recolonização de países independentes. É o que fazem qualquer que seja o governo, o presidente.

Uma declaração de alta autoridade dos serviços de inteligência dos EUA, publicada no WASHINGTON POST, um dos mais importantes jornais daquele país, fala da autorização concedida a forças de combate ao “terrorismo”, para matar qualquer pessoa em qualquer parte do mundo desde que essa pessoa signifique riscos para os interesses norte-americanos. A declaração foi feita à luz do dia, no governo democrata de Barack Obama e não foi desmentida. Na prática, é uma reafirmação de ordens existentes desde o governo Bush (oficialmente) e vigentes extra-oficialmente desde o fim de segunda grande guerra.

A cidade mineira de Araxá é depósito, digamos assim, de grandes reservas de nióbio. Moradores de Araxá relatam com freqüência que, independente do turismo, da atração exercida pelo Grande Hotel de Araxá (privatizado nos governos Azeredo e Aécio), é grande o número de japoneses e norte-americanos interessados na compra do nióbio.

As reservas descobertas na Amazônia transformam o Brasil em bem mais que o maior detentor de reservas do mineral em todo o mundo. Mas no único exportador. Todo o nióbio usado no resto do mundo sai do Brasil. Entre a quantidade do mineral exportado legalmente e a quantidade real, há uma diferença elevada.

Ou seja, 60 por cento do nióbio brasileiro é contrabandeado.

As FARCs são apenas pretexto dos norte-americanos para consolidar posições na América do Sul, parte do mundo que consideram extensão de seu território e seus interesses.

A base militar dos EUA no Paraguai, ainda ao tempo do governo anterior ao de Fernando Lugo, foi instalada com o pretexto de combater o terrorismo ao Sul dessa parte do mundo. O governo de Bush alegava que a grande colônia palestina na região de Foz do Iguaçu servia de abrigo a terroristas e que por lá já andara inclusive o líder da Al Queda, Osama bin Laden. Está ali o quinto maior reservatório subterrâneo de água doce em todo o mundo, o Aqüífero Guarani.

Os palestinos que residem na região se dedicam ao comércio e o dinheiro que enviam a seu país de origem, o fazem para seus familiares. As vítimas da barbárie sionista e por falta de perspectivas de sobrevivência. Uma das práticas sistemáticas de Israel, além de ter se apropriado da água em territórios palestinos, é destruir a economia da região de Gaza. Ali se produz flores e hortifrutigranjeiros que exportados servem para o sustento dos palestinos. Em tempos normais cerca de 150 mil caixas diárias de tomates, por exemplo, são exportadas para a Arábia Saudita. Israel não permite que isso aconteça mais.

O golpe militar em Honduras, montado e financiado pelos EUA, dentro da estratégia de “legitimá-lo” com a farsa de uma eleição de cartas marcadas, cumpriu o papel de evitar a expansão da ALBA – ALIANÇA BOLIVARIANA DA AMÉRICA LATINA – contraponto à transformação dos países latino-americanos em colônias de Washington projeto embutido na proposta da ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS –.

E ao mesmo tempo cumpre o papel de laboratório para futuros golpes em países latino americanos que se opõem às políticas imperiais dos norte-americanos.

O nível de agressividade dos EUA aumentou desde a eleição de Hugo Chávez, de Evo Morales e Rafael Corrêa na Venezuela, Bolívia e Equador, respectivamente. Da presença de Lula no governo brasileiro. E governos de esquerda no Paraguai e no Uruguai, além das posições nacionalistas de Cristina Kirchner na Argentina.

Os investimentos em partidos políticos fiéis a Washington cresceram de forma significativa diante dessa realidade. Está eleito um antigo colaborador de Pinochet no Chile (Sebastián Piñeira). No Brasil o PSDB, o DEM e o PPS são os braços do capital norte-americano.

A presença de Daniel Ortega na Nicarágua e a de um governo de centro-esquerda em El Salvador acentua a preocupação dos EUA. A proposta de Chávez de formação de um bloco político e econômico latino americano assusta o império.

No Brasil, considerado estratégico para os interesses dos EUA, a política norte-americana tem oscilado entre a prática golpista, 1964, quando a parte das forças armadas brasileiras leais a Washington derrubou o presidente constitucional do País João Goulart e o arremedo de democracia em figuras fabricadas nos laboratórios da mídia que Washington controla a partir, principalmente, do grupo GLOBO de comunicações (jornais, rádios e tevê), não é diferente. Subordinados ao capital estrangeiro vendem diariamente e em doses maciças a alienação enquanto se processa a lenta e gradual ocupação do Brasil. Foi plena no governo de Fernando Henrique Cardoso, funcionário da Fundação Ford,  o doutrina de segurança nacional formulada pela Comissão Tri-lateral – AAA – (América, Ásia e África) foi substituída pelo Consenso de Washington, a globalização definida de forma magistral como “globalitarização” pelo brasileiro Milton Santos.

O que, à época da ditadura, Golbery do Couto e Silva, general da banda do exército brasileiro comandado por Washington, interpretou como sístole e diástole, movimentos de abertura e fechamento segundo as conveniências das elites políticas e econômicas dos EUA.

Elites brasileiras e latino-americanas são apêndices, até porque são apátridas.

Estamos vivendo uma guerra não declarada, mas brutal e violenta e o inimigo é o governo dos Estados Unidos.

Militares brasileiros responsáveis, não subordinados a Washington, têm consciência disso. São minoria, no entanto, diante dos eternos golpistas.

A importância do Brasil em todo esse contexto pode ser medida na frase, sempre permanente, de um ex-presidente dos EUA, Richard Nixon – “para onde se inclinar o Brasil se inclinará toda a América Latina” –.

É a razão pela qual vão investir todos os recursos necessários para eleger o atual governador de São Paulo para suceder Lula. Querem um governo dócil e que complete a obra de FHC. E ainda mais agora que o Brasil se revela detentor de uma das maiores reservas de petróleo em todo o mundo, o pré-sal. Privatizar a PETROBRAS é fundamental para os interesses dos EUA.

Os dez mil soldados que Obama enviou ao Haiti para “ajudar” as vítimas do terremoto, entre outras coisas, garantem as reservas petrolíferas daquele país para empresas dos EUA.

Como toda sociedade de um império, num determinado momento, a doença da barbárie, da violência, da boçalidade permeia o tecido social desse império. Tem sido assim historicamente. E não será diferente com os EUA. Vão ruir por dentro. Os Estados Unidos são uma sociedade doente.

Não significa que não seja necessária a resistência.

Há um processo, vamos ficar no Brasil, que ocupa setores estratégicos do Poder Público (do Estado). Essas garras se estendem ao Judiciário ao Legislativo e encontram eco mesmo num governo de centro-esquerda como o de Lula, em ministros como Nelson Jobim, Reinold Stephanes e políticas que não mudam na essência as estruturas políticas e econômicas sob controle de bancos, grandes empresas e latifúndio.

Por essa razão criminalizam movimentos populares de grande peso como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), cooptam importantes centrais sindicais e criam um pânico disfarçado na população, uma forma de lacerdismo sem a histeria de Carlos Lacerda. Essa é desviada para a lavagem cerebral imposta por novelas de tevê, programas conduzidos por figuras como Xuxa, informações a partir de telejornais mentirosos – JORNAL NACIONAL –, ou os preconceituosos como Boris Casoy (teve um chilique quando viu garis na telinha no ano novo), bordéis transformados em catedrais como o Big Brother, catedrais do sucesso, do dever ser, do aceitar para triunfar.

E nem falei na posição de extrema-direita adotada pela Igreja Católica através de seus principais dignatários desde João Paulo II, acentuada com Bento XVI, ou nas casas chamadas igrejas de estelionatários como Edir Macedo (tem base em Miami, paraíso dos mafiosos do mundo inteiro).

Há uma guerra não declarada, mas presente em cada momento das nossas vidas e em jogo está a independência e a soberania nacionais. O futuro do Brasil vale dizer de nossos filhos, netos.

A opção andar ereto e de cabeça erguida ou cair de quatro e aceitar a realidade que vem imposta de Washington é nossa.

Resistir ou cair.

O senador Artur Virgílio divulgou um comunicado oficial através de sua assessoria que iria levantar-se cedo, está em Washington acompanhado de outro corrupto, Eduardo Azeredo, para tomar café com o presidente Obama.

Em qualquer cidade de porte médio dos EUA. ou New York e Washington, é possível ir a uma loja de fotografia e tirar uma foto ao lado de Obama, como é possível mandar imprimir um jornal com um nome qualquer e publicar a foto na primeira página ao lado do noticiário do dia.

Pego no contrapé o senador Artur Virgílio, agente norte-americano no País, disse que sua assessoria errou ao divulgar que tomaria café da manhã com Obama. Esqueceram de explicar que haviam mais de mil convidados e que mantidos a uma distância segura do presidente dos EUA, tomariam seus cafés em suas mesas enquanto Obama, em rápida aparição iria saudar os presentes (todos comprados e muito bem pagos pelos EUA), tomaria um rápido café, falaria das intenções democráticas de seu país para com a América Latina e o mundo e abençoaria com uma oração os presentes.

É uma das batalhas da guerra. É assim que fazem, contam com políticos venais como Artur Virgílio e Eduardo Azeredo e sonham ter José Collor Serra na presidência a partir de 2011.

Aí viramos BRAZIL. Deixamos de ser um gigante adormecido que está acordando e passamos a ser um gigante dominado e controlado por uma sociedade doente. O império norte-americano.

Fonte: Grupo Cidadania Brasil

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