terça-feira, 6 de abril de 2010

A dimensão de Lula


Por Eduardo Guimarães

Apesar de ser fã de carteirinha do presidente Lula, fiquei surpreso com o seu desempenho na entrevista que concedeu ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, apresentado a partir das 23 horas do último domingo. Isso porque, sob pressão extrema, ele sempre se saiu pior do que poderia mesmo sendo esse comunicador prodigioso que até seus adversários reconhecem. 

E o presidente esteve sob forte pressão naquele programa. Jornalistas tarimbados e especializados nesse tipo de debate, que se apresentam e são pagos como portentos de inteligência e de conhecimentos gerais – e não estou dizendo que sejam o que pensam que são, é bom esclarecer –, tentaram, por todas as formas, encurralá-lo ou fazê-lo se perder em sua argumentação. Mas fracassaram, pois nunca o vi tão afiado.

Contudo, que não pensem que estou reclamando de Lula ter sido inquirido daquela forma porque esse é o papel do jornalista. Imaginem se, num programa de mais de hora, os entrevistadores se limitassem a discutir amenidades e a elogiar o entrevistado. Seria aborrecido demais. Aliás, as perguntas incômodas foram boas até para o presidente ter como responder às críticas-padrão a seu governo e a ele mesmo.

É aí, então, que a porca torce o rabo – nas críticas-padrão. Os inquiridores de Lula, do alto de suas, digamos, propaladas “sapiências”, foram de uma mediocridade a toda prova. Nenhum, absolutamente nenhum dos questionamentos e críticas que fizeram saiu de suas cabeças. Estavam todos seguindo um roteiro que se vê à exaustão nessa imprensa anti-Lula e anti-PT, dia após dia, há quase oito anos.

Como apreciador incondicional do bom jornalismo, apoiaria se tivessem feito questionamentos realmente relevantes. Poderiam ter perguntado por que se permite que os bancos continuem praticando o maior “spread” (taxa de risco nos empréstimos) do mundo em um país que hoje tem um dos menores riscos médios - em vários países ricos, hoje, esse risco é muito maior do que no Brasil, e o spread desses países, infinitamente menor. 

Isso eles não perguntam. Vai que desencadeiam alguma ação deste governo no sentido de coibir essa barbaridade... Seria divertidíssimo ver a mídia tentando defender os interesses de sua turma sem dar pinta.
O que me impressionou, assim, foi a evolução de Lula. Acompanho seus debates desde 1982, quando, ao lado de Franco Montoro, Reinaldo de Barros, Rogê Ferreira e outras feras deu um show no debate entre os então candidatos a governador de São Paulo. Nunca me esquecerei da resposta que deu quando lhe perguntaram se era socialista, trotskista ou sei lá mais o que e ele respondeu, de forma genial, que era torneiro mecânico. 

Era, então, um Lula em estado bruto, mas já deixando a ver os predicados que o levariam aonde o levaram.
Ele conta aos jornalistas, durante essa entrevista ao Canal Livre, o que eles meramente supõem sobre os grandes líderes mundiais. Revela bastidores dos encontros com eles, explica como funciona o Estado, desmonta versões pernetas sobre o que pensa e pretende... Teria que escrever vários posts para reproduzir fidedignamente a aula dada por esse que julgo ser o único verdadeiro estadista que conheci.

E se pudesse escolher as melhores respostas que o presidente deu, escolheria só duas. E nem são aquelas em que deixou seus inquiridores com a brocha na mão. Foram suas declarações finais sobre dois assuntos que revelaram toda pequenez e burrice de quem os abordou. Refiro-me às pretensões que tentaram lhe atribuir de se tornar secretário-geral da ONU depois de encerrar seu governo e de se candidatar de novo à Presidência em 2014. 

O estadista Luiz Inácio Lula da Silva disse que o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas não deve ser de um líder político forte e, sim, de um burocrata, porque, do contrário, esse super-secretário poderia querer se impor sobre as nações. E fiquei emocionado com a sua resposta sobre tentar se eleger presidente de novo daqui a quatro anos, quando disse que já tinha feito a sua parte e que merecia descanso.

Lula se tornou maior que Lula. Ele não é mais apenas um político e governante ultra-popular e bem sucedido. Sua dimensão vai se tornando uma lenda que julgo que fará registrar seu nome na história. É assim que o vi na entrevista que concedeu no último domingo. Sem o menor exagero, certo de que cada palavra que escrevi é mais do que merecida.

Fonte: Blog Cidadania.com

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