segunda-feira, 10 de maio de 2010

AS LETRINHAS MIÚDAS DO CONTRATO

Por Laerte Braga

Você pode entrar numa revendedora de automóveis, por exemplo, ou numa loja de eletrodomésticos e levar o que quiser em não sei quantas prestações, crédito pré-aprovado, juros mais baixos, entrega em 24 horas (que na verdade são de três a cinco dias), tudo sem entrada e pronto. A felicidade bateu à sua porta, um carro do ano ou uma tevê daquelas que parece que você está no cinema.

No primeiro problema, digamos que algo não funcione, ou no carro, ou na tevê, você entra em contato com a revendedora, a loja, eles anotam, encaminham para o serviço competente, lhe dão um número de protocolo, atribuem o defeito ao fabricante, prometem solução rápida e ainda de quebra, se você quiser apressar o atendimento recebe um telefone mágico, 0800, que nunca atende, deixa você esperando com aquela música chata e de tempos em tempos uma voz anuncia as excelências do carro ou da tevê que não funcionam.

De repente... De repente você percebe que não leu as tais letras miúdas do contrato e se lasca. Um processo judicial, mesmo no que chamam juizado de pequenas causas, vai demorar, vai se arrastar e muitas vezes o objetivo da revendedora ou da loja é alcançado. Você desiste, larga para lá.

A ação tem que ser proposta no foro deles, eles têm duzentos advogados, você ainda vai gastar para pagar o seu, os resultados são incertos, você literalmente se lasca.

Em se tratando de bancos e companhias telefônicas então, mais que se lasca. Se arrebenta. No fim ainda são capazes de provar que errado é você, que os serviços foram prestados dentro da lei, você é que não prestou atenção aos termos do contrato, acaba pagando por ter razão.

Transfira tudo isso para a política, a democracia, ou o simulacro de democracia que temos.

Você elege um deputado, um senador, um vereador, um prefeito e tem que aguentar o mandato inteiro. Tirar qualquer um desses seja por corrupção, quebra de compromisso assumido em praça pública é quase impossível. Collor saiu porque não foi capaz de garantir aos donos da “loja Brasil” que poderia continuar a vender o produto Brasil e de quebra os brasileiros, com segurança para os tais donos. Do contrário teria ficado.

FHC não fez a mesma coisa e ficou oito anos? Foi eleito para quatro, comprou deputados e senadores, mídia e arrumou uma reeleição sem qualquer consulta popular?

Vendeu o filé do Brasil para os donos e repartiu os prejuízos com os eleitores. Altos índices de desemprego, preços bem mais altos que os que se praticam hoje, como gostam de dizer os economistas, se não tivesse acontecido reação de determinados setores, teria passado a escritura.

Para privatizar, por exemplo, as empresas de telefonia pública, saneou todas elas e entregou-as em suaves prestações aos grupos estrangeiros e nacionais que se associaram para o saque, com financiamento do BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social –.

Para entregar o sistema financeiro aos grandes grupos estrangeiros criou um negócio chamado PROER, pagou as dívidas e as trapalhadas dos banqueiros e promoveu uma festa para bancos estrangeiros e grupos nacionais a eles atrelados.

Bilhões de reais que, cinicamente, dizia que seriam transformados em bem estar para a população.

Eleições viraram, antes de mais nada, um grande negócio para empresas de comunicação, marqueteiros, alguns institutos de pesquisa (DATA FOLHA E GLOBOPE – antigo IBOPE).

Você pode transformar e fizeram isso um marajá em caçador de marajás, em presidente da República, colocando-lhe uma coroa de modernizador, fonte de progresso, até que se perceba que o cara não é nada disso, que no duro mesmo é um baita risco e em seguida colocar alguém mais confiável, como fizeram com FHC.

Eleger um presidente da República não significa necessariamente que todos os problemas serão resolvidos num passe de mágica, ou que o País vá se transformar num Éden. Mas não pode significar um retrocesso, uma volta a um passado tenebroso, tenha sido o gerado pela ditadura militar, ou o construído por FHC.

Da mesma maneira que vendem um carro ou uma tevê, que seja uma dessas máquinas de lavar com o tal sabão que tira todas as manchas, mas não tira nenhuma, vendem um candidato.

Tornam o processo eleitoral num espetáculo. Seja através de mentiras grosseiras, no pressuposto que enganam você com qualquer bobagem (caso dos 45 anos da GLOBO, associado num comercial da rede à candidatura José Collor Arruda Serra, ao seu partido cujo número é 45 e ao seu slogan, “O Brasil pode mais”), ou de pesquisas montadas e carimbas para favorecer o dito produto, quer dizer candidato Arruda Serra, enfim, tudo o que for possível dentro ou fora da lei, mentira ou verdade, para alcançar o objetivo.

E se num determinado momento falam alguma verdade, tenha a certeza que o fazem por desonestidade, por conveniência. Só por isso.

A tal moça seqüestrada na Colômbia que estava morrendo de fome, envelhecida dez anos, com hepatite, o diabo a quatro, Ingrid Bettancourt, quando foi solta vendia beleza, logo de saída uma empresa de cosméticos tratou de patrociná-la e lançou-a candidata ao prêmio Nobel da Paz. Por pouco não leva. “Ingrid Bettancourt cuidou-se no cativeiro usando o produto tal”. Seria a faixa principal da grande festa.

Não deu. Tem horas que falha.

Um dos expedientes usados pelos profissionais desse tipo de negócio, eleições, é desqualificar o adversário mais perigoso do ponto de vista eleitoral. À falta de argumento inventam toda a sorte de mentiras, de situações desfavoráveis, criam irrealidades e plantam-nas com a maior cara de pau do mundo, até porque a coligação que apóia José Collor Arruda Serra não é só de partidos políticos oficialmente aceitos assim.

Tem o partido REDE GLOBO, o partido FOLHA DE SÃO PAULO, o partido TEVÊ BANDEIRANTES, o partido VEJA, o partido RBS, um monte de pequenos partidos estaduais e regionais a mostrar no sul as obras que não foram feitas no norte e a mostrar no norte as obras que não foram feitas no sul.

Engodo puro.

É como vender remédio para prisão de ventre como se fosse remédio para diarréia.

Arruda Serra numa viagem a Porto Alegre criticou o bloco do MERCOSUL. Países sul americanos que têm tratado de livre comércio, formam um bloco como o é a Comunidade Européia, o NAFTA (México, Canadá e EUA).

Os países da Europa e os EUA em parceria com o Canadá (extensão do território norte-americano) perceberam que a realidade da chamada nova ordem política e econômica implica em acordos de livre comércio para garantir-lhes a economia. A pujança, digamos assim.

No caso da América Latina inventaram uma tal de ALCA. ASSOCIAÇÃO DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS. Funciona mais ou menos assim. O México, que tem um tratado semelhante com os EUA e o Canadá, recebe o lixo hospitalar de empresas norte-americanas. Aí o prefeito da cidade onde o lixo é depositado resolver proibir que assim seja feito. O tratado garante à empresa o direito de fazê-lo e mais que isso, o de ingressar em juízo em qualquer parte do território abrangido pelo NAFTA.

Vai daí que a empresa entra em juízo em uma corte dos EUA, o México tem que aceitar, a cidade onde o lixo é depositado, perde a ação e ainda tem que pagar multa por não ter cumprido um dos itens do tratado. O lixo continua a ser despejado lá. Mexicanos que se danem.

Se reações existirem, os mariners estão prontos para entrar em ação, garantir a democracia no México, as liberdades e os direitos humanos, deles, norte-americanos e canadenses, naquilo que o general Colin Powell, referindo-se à ALCA, chamou de “mercado de um trilhão de dólares”.

Nessa prática assinam os contratos. Em letras garrafais o progresso, o bem estar, que nunca acontece, em letras miúdas, todo o ônus de qualquer defeito no processo. Para você.

Compram governos, deputados, senadores (no Brasil alguns colocam placa de vende-se tudo à porta de seus gabinetes, Kátia Abreu por exemplo), governadores, prefeitos, associam-se a elites econômicas como o esquema FIESP/DASLU e contratam políticos confiáveis, investindo nos caras, já que a mídia é deles, é venal, é comprada, para que possam realizar as grandes negociações.

Só para efeito de raciocínio, se a EMBRAER – EMPRESA BRASILEIRA DE AERONÁUTICA – não tivesse sido privatizada por FHC, estaríamos hoje com tecnologia nacional em condições de competir no tal mercado internacional no negócio dos grandes aviões de transportes de passageiros. Privatizada, a empresa é também emasculada em função dos interesses dessas grandes empresas, as dos donos.

Abrimos mão de construir nosso futuro. Transferimos o poder de decisão para Washington. É só um exemplo. IMBEL e ENGESA foram liquidadas pelos grandes fabricantes de armas do mundo quando perceberam que essas duas empresas estavam começando a produzir com tecnologia superior à de norte-americanos, franceses, belgas, ingleses, etc.

Restam PETROBRAS, BANCO DO BRASIL e uma ou outra. Já se ouriçam com a idéia do presidente Lula de desenvolver um programa de banda larga que torna o acesso a internet barato e pleno, possível a todos, através da TELEBRAS.

A PETROBRAS exporta tecnologia de ponta em diversos setores de suas atividades.

O processo de enriquecimento de urânio no Brasil, para fins pacíficos, é superior ao dos EUA e as pressões para que seja mostrado, a pretexto de inspeção são anormais.

Contam com apoio de parte das forças armadas seduzidas pelo “patriotismo” daqueles que se submeteram em 1964 ao comando de um general dos EUA.

José Collor Arruda Serra é um produto que já vem com todos os defeitos desse modelo sórdido, colonizador, cruel e perverso. É só aparência, produto de marketing, tente buscar alguma coisa efetiva ou concreta que tenha feito que não apropriar-se de feitos de outros, como no caso dos genéricos (o ministro da Saúde responsável pela criação e implementação do projeto foi Jamil Haddad, no governo Itamar Franco) e FHC foi contra, era ministro da Fazenda.

Faça uma comparação entre os governos de Lula e FHC. Há “defeitos” em Lula, claro que os há, mas veja o significado de uma eventual eleição de Arruda Serra.

Leia as letrinhas miúdas do contrato.

Se isso acontecer vamos voltar à idade da pedra lascada. Mas os patrões dele, os que movimentam as cordinhas não. Vão levar o Brasil inteiro e não vai ter jeito de você trocar o produto, os caras são espertos demais, amarram tudo nas tais letrinhas miúdas, inclusive as mentiras que vendem diariamente através da grande mídia, ou do próprio candidato.

É só comparar o discurso com a prática. Não precisa mais nada.

Quando Arruda Serra investe contra o MERCOSUL, a integração latino-americana, está também investindo, por tabela, na ALCA, aquele negócio de virarmos depósito de lixo dos EUA e das grandes potências.

E nos grandes negócios que sustentam tucanos e seus aliados. As letrinhas miúdas, as letras imensas prometem Disneylândia, quando no duro oferecem um parque de diversões onde a roda gigante não funciona e a montanha russa deixa você de cabeça para baixo o tempo todo.

É por aí que vamos nos estrepar. Se não atentarmos para as letras miúdas do tal contrato.

1 comentários:

Nélio Azevedo,  10 de maio de 2010 às 20:44  

Caro Laerte, não podemos nos esquecer do montão de pneus usados que forçaram o governo do FHC a receber, vindos do Japão e EUA, aqueles containeres de lixo que aqui aportaram, não erraram o endereço não, erraram foi o governante. O contrato para uso da Base de Alcântara foi redigido em inglês e ratificado pelo Congresso, sob o comando de ACM, impede até o presidente da república (do Brasil) de entrar lá. O Serra Alston e Cia adoraram.

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