quinta-feira, 10 de junho de 2010

AFINAL, QUEM IRÁ FAZER O PAPEL DE CABRAL?

Por Nélio Azevedo

“Ainda mais triste que ver as crianças sem escolas é”.
vê-los imóveis em carteiras enfileiradas, em salas
sem ar, perdendo tempo com exercícios estéreis e
sem valor para a transformação do ser humano”...
Helena Antipoff (1892-1974)


Pode ser uma rima, mas terá também que ser uma solução.Se colocarmos o Brasil numa situação fictícia em que o Conhecimento e a “Felicidade Eterna” seriam o Novo Mundo, fica a pergunta: quem será o comandante da “Caravela” que levará os brasileiros excluídos até ao “Porto Seguro” do Conhecimento Real?

Ai, meu Jisuis! Primeiro terá que ultrapassar o temido Cabo Bojador, e ainda nem suspeitamos da existência do Cabo das Tormentas, ou será que já deixamos esse Bojador para trás e nos encontramos permanentemente em pleno Cabo das Tormentas a espera de um bravo navegante que nos ensine o caminho para as Índias ou nos conduza pelas rotas seguras?!

Esse intrépido navegante não poderá ser “marinheiro de primeira-viagem”, ou poderá?
Cabral não tinha lá muita experiência em viagens oceânicas, quando se lançou ao “Mar Tenebroso”, tudo bem que ele perdeu uma caravela, talvez seja o preço a pagar.

 O problema é que o Brasil já perdeu quase todas as caravelas, a “Anísio Teixeira”; a “Paulo Freire”; a “Celso Furtado”; a “Darcy Ribeiro”; que não se sabe se já naufragaram ou estão avariadas perdidas em outros mares. Sem contar com a mania de botar fogo nas caravelas que nossos comandantes têm.

Corremos o risco de nos defrontarmos com a terrível “Calmaria-Sistema-Pedagógico-Vigente”. Ela nos faz perder um tempo precioso, nos mantém nesse atraso e causa tantos males à educação e à formação, criando uma leva de marinheiros-professores mal pagos e insatisfeitos e outra leva de “alunos grumetes” desinteressados, portadores de um tipo de escorbuto-bêabá, que provoca a estupidez crônica e o estreitamento do parietal, que por sua vez comprime o cérebro, provocando uma redução do seu tamanho. Que em alguns casos, não vai mesmo fazer falta os neurônios perdidos, já que seria um luxo ou desperdício, pois, não teria serventia. Acabam virando uma subespécie da raça humana conhecida como “Surfistas neandertalenses”, muito conhecido como os “fala-curta”.

A falta de treinamento dos “alunos grumetes” em tempo integral poderá comprometer os resultados dessa empresa, pois serão eles os marinheiros ou pilotos que conduzirão as nossas naus ao futuro ou ao nada, mais ou menos parecido com a atual realidade.

Dizem as más línguas que os “alunos grumetes” que já estão quase formando não conseguem ler sequer uma simples carta-náutica ou somar um paralelo com outro e muito menos se localizar num mapa mundi do mercado de trabalho. São analfabetos funcionais; não operam sextantes-windows, não têm acesso ao sistema de navegação do astrolábio-internet e a grande maioria não vai nunca chegar à universidade de Sagres.

Com uma tripulação dessas e uns comandantes que não sabem se orientar pela Estrela-Polar nem pelas necessidades reais de nossos “alunos grumetes”, corremos o risco de dar em terras desconhecidas onde provavelmente nos depararemos com nós mesmos e, o que é pior, corremos o risco maior de não nos reconhecermos.

Sendo assim, não só o porte dessa caravela será de extrema importância, assim como a capacidade de nosso timoneiro, pois tirar essa leva de deserdados da Índia que existe aqui e leva-los até a um Porto Seguro na Bélgica, não será uma tarefa fácil nem rápida. Afinal levou 500 anos para sedimentar esse modelo que ai está e não será com 500 dias que o desconstruiremos e edificaremos outro.

Alguns bons timoneiros já nos acenaram em passado recente com os mapas e os caminhos a serem seguidos, mesmo que nos mapas encontremos rotas “Plurais”, como um atalho para se chegar ao tão almejado “Porto Seguro”, temos que ficar atentos, pois a “Cassandra Avassaladora” nos espreitará a cada curva e a cada esquina desse imenso “Mar Oceano”  (que agora já foi navegado por outros e podem até apontar os caminhos seguros para nós), ou o empreendimento pode literalmente ir por água a baixo sem cumprir seu intento.

Outro aspecto interessante é a concepção que alguns timoneiros tiveram e têm até hoje dessa grande travessia. Como são representantes de uma elite formada na USP-Sagres, têm um verdadeiro pavor de pensar em colocar essa turba de melequentos e descamisados ao seu nível de conhecimento, pois é do sangue e do atraso deles que se construíram as maiores riquezas desse país. Continuam pensando que esse populacho, só serve para trabalhar, não tem capacidade para o uso do intelecto, portanto é até uma benfeitoria o mísero emprego e o mísero salário que lhes destinam, afinal “tá assim de neguinho querendo uma boquinha”; então esse simulacro de ensino que lhes é destinado ta bom até demais, “Pra quem é, bacalhau basta”.

Vencer essa concepção aí não será uma tarefa fácil, terá que ser plantada na sociedade como um valor e ela própria tem que acreditar que é através do conhecimento que chegaremos ao bem estar e que isto não poderá ser um presente que os nossos comandantes nos darão como bons pais que são, terá que ser uma conquista, assim como o foi em outros países onde a caravela deles chegou e aportou com o maior sucesso e deixaram a Índia deles para trás, a exemplo da Coréia, Finlândia, Taiwan e outros.

Que Nossa Senhora dos Navegantes nos guie e proteja juntamente com São Jerônimo e Santa Bárbara e mais outros santos especialistas em tormentas, raios e trovões que estiverem disponíveis nos ajude nessa que seria talvez a mais importante travessia da nossa história.

(Texto de minha autoria, retirado de um trabalho escolar da disciplina Sociologia da Educação – FAE - UFMG, 2004) 

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