sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Natalia Viana: Um bando de provocadores

Texto retirado do Blog da Natalia Viana.

Reproduzo aqui o que disse o editor do New York Times, Bill Keller,  sobre o WikiLeaks, hoje:

“Ao longo desta experiência, nós consideramos Julian Assange e seu alegre bando de provocadores e hackers como uma fonte. Não vou dizer uma fonte pura e simples, porque como qualquer repórter ou editor pode atestar, fontes são raramente puras e simples”.

Ele disse isso em um evento sobre jornalismo promovido pela Fundação Nieman, em Harvard. E afirmou ainda que Julian Assange não é um jornalista: “Pelo menos não do mesmo tipo que eu”.

Acho que a consideração é perfeita e vem no momento exato:  Bill Keller apenas falou alto o que muitos jornais pensam.

A postura dele revela uma coisa simples, que é o fato de que muitos profissionais da mídia tradicional não estão prestando atenção no que está acontecendo com o jornalismo no mundo.

Falo de jornalismo grasroots ou comunitário, sim, falo de jornalismo espontâneo e de blogs, sim, mas falo principalmente de bom jornalismo, relevante e profundo que está surgindo de grupos independentes e também de centros de jornalismo investigativo – e que está retirando o monopólio dos veículos estabelecidos de produzir e propagar infomação, de dizer o que é ou não notícia.

Após taxar o WikiLeaks de “fonte”, o editor diz que “nenhuma fonte” é “pura e simples”. O raciocínio mais lógico é questionar se algum jornal é um jornal “puro e simples”, incluindo o New York Times. E isso não tira o mérito do bom jornalismo que muitos deles fazem.

Mas a coisa é um tanto pior porque o  WikiLeaks obtem informações valiosas – sim, elas valem muito dinheiro. Vendem jornal. Causam escândalo. Então, neste caso, os veículos tradicionais se interessam e têm que negociar.

Por isso me assusta um pouco a defesa de que há um tipo “superior” de jornalista e “outro tipo” – neste quesito caberia o Julian Assange. Cheira a uma defesa desesperada de quem está perdendo seu nicho de mercado.

Não seria mais inteligente olhar as novas fronteiras do jornalismo, reconhecer as iniciativas bem-sucedidas e ficar feliz com o mundo de possibilidades que está se abrindo?

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