AFINAL SOMOS OU NÃO UM ESTADO LAICO?
Por Nélio Azevedo
Desde que Thomas Hobbes e Russeaul descreveram o Estado como sendo o resultado da transferência do direito para uma ou mais pessoas, ele estava falando da sociedade política, não de uma sociedade religiosa.
O mundo deu voltas, mergulhou na escuridão de duas guerras mundiais que assolou a Europa e adjacências quando a política foi anulada, mas os homens parecem não ter aprendido muito com estas funestas experiências.
Hoje vemos o embate sem despistes de homens que se lançam numa cruzada contra outros homens escorados numa mensagem divina ou numa promessa de um Armagedom ou apocalipse bíblico, onde quem crê se sente no direito de aniquilar os que não crêem nas mesmas crenças.
Essa disputa através do “meu deus é melhor do que o seu” tem produzido espetáculos dantescos como os atentados aos EUA, a invasão do Iraque, a barbárie disseminada pelos talibãs afegãos e o show de apedrejamento de mulheres em estádios e outras cositas más.
Nesses países a democracia passa ao largo e alguns se intitulam teocracias sem o menor pudor, onde homens são transformados em carneiros e seguem firmes para o abate, sob a ordem e domínio dos lobos que não, vestem peles de cordeiros, mas, de lobos.
Lobos religiosos e tementes a Deus.
Dando essas voltas todas, o estado se modernizou e criou o estado de direito, criou instituições e organismos que vieram corroborar as escolhas através do sufrágio universal e submeteu as religiões às leis do Estado. Isto se tornou o Estado Laico, onde as religiões oficiais deixaram de existir e as questões espirituais foram apartadas das questões da rés públicas e, seria possível, até mesmo, não ter questões espirituais como preocupação do Estado.
Entretanto, vemos tristemente, o mundo civilizado ou não mergulhar numa onda apocalíptica, às vezes, disfarçada de onda verde ou jihad, ou seja lá o nome que se queira dar.
O país tido como berço da democracia moderna, assiste hoje uma onda de fanatismo religioso que não fica atrás dos afegãos, até o nome é o mesmo, talibãs americanos; onde a xenofobia adota conotações de fé e se lançam em guerras santas dentro e fora dos EUA. Adotam-se leis que permitem constranger qualquer um que não seja louro dos olhos azuis e criam muros que envergonhariam o Muro de Berlim, nas divisas entre os EUA e o México, na Cisjordânia ocupada ilegalmente, no leste europeu ou no simples ato de banir o lenço ou xador; não importando se é uma manifestação religiosa ou cultural, a intolerância vai além de ar um chute na santa, agora o chute é na dignidade humana.
O que virá depois? Quando não tiver mais campanha política e as trincheiras da ignomínia tiverem que buscar outro campo para a batalha será que teremos mais uma edição da Caça às Bruxas? Ou os inimigos serão os umbandistas ou os ateus?
Quando assistimos boquiabertos aos rumos que o debate político tomou, eu disse debate político? Não há debate político nem de programas nem nada, só uma idiota busca da aprovação popular com autos de fé e haja velas de metro e joelhos escalavrados em promessas para os santos e padroeiros.
É extremamente duro e causa nojo ver e ouvir candidatos se desdobrando e se entortando todo para afirmar em praça pública e dentro dos templos sua inabalável fé em deus e santos, numa tentativa de última hora de angariar os votos dos dê-votos, dos puritanos de última hora, dos beatos e santos de consciências limpas e passados ilibados. Quanta castidade, meu deus. Vão acabar por convocar o Todo-poderoso para algum ministério ou secretaria, provavelmente o ministério da fé.
Haja Omeprazol, não aguento mais aquela musiqueta “Serra é do bem, Serra é do bem”. Os outros, inclusive a Marina são do mal?
É isso que nós temos para a escolha no dia da eleição. Quero não. Agradecido! Vou esperar a próxima eleição, quem sabe se melhora o nível.
Em tempo, enquanto eu escrevia esse texto, milhares de mulheres sofreram aborto, numa razão de um a cada quinze segundos, o quê foi feito para impedir isso? Rezas? Promessas ou novenas? Greve-de-fome? Nada anão ser debater esse problema numa rodada de cerveja e conversa fiada.
Dê cá meu boné, que eu vou para Passárgada, lá sou amigo do rei e, o rei não me obriga a ir à missa.
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