quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

WikiLeaks: E o que fazer com quem considerávamos terroristas?

Por Natalia Viana

Um documento publicado pelo WikiLeaks mostra como os americanos têm dificuldade ainda hoje de lidar com ex-opositores da ditadura militar no Brasil, que na época eram considerados “terroristas”.

O telegrama enviado em 15 de outubro de 2009 ao Departamento de Estado pede orientações a respeito do visto concedido a Paulo de Tarso Venceslau, ex-integrante do grupo Aliança Libertadora Nacional que participou do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.

Ele acabava de obter um visto de turista no consulado dos EUA em São Paulo.

Segundo o telegrama, a diplomacia americana se preocupava que, ao perdoar ex-guerrilheiros, isso enfraqueceria sua luta contra o terrorismo.

“A missão vê implicações potenciais na expedição do visto em termos da política e da mensagem mais ampla dos EUA sobre terrorismo, em especial em relação aos oficiais americanos”, escreveu a diplomata Lisa Kubiske.

Paulo de Tarso participou do sequestro do embaixador americano em 1969 ao lado do deputado federal Fernando Gabeira e do secretário de comunicação da presidência Franklin Martins. Até hoje eles não têm permissão para viajar para os EUA. Em troca da libertação do embaixador, 15 presos políticos foram soltos.
No comunicado, Kubiske explica  que o consulado expediu o visto sem saber do passado de Paulo de Tarso. Para ela, o visto ainda podia ser barrado.

Só deveria ser expedido se Paulo de Tarso renunciasse publicamente ao sequestro enquanto tática válida. “Nós teríamos que buscar essa afirmação”, escreve ela. Mesmo assim, ela observa que “se ele fizesse essa renúncia, expedir um visto a Venceslau constituiria um precedente em relação aos outros sequestradores, pelo menos dois dos quais (Gabeira e Martins) provavelmente vão pedir um visto num futuro próximo”.

A diplomata nota que Gabeira critica hoje em dia o sequestro, mas observa com preocupação que Franklin Martins “se recusa obstinadamente a expressar remorso por seus atos”.

Mesmo assim, Kubiske avalia que seria positivo para a relação entre os países se o visto fosse mantido, “considerando que já passaram 40 anos desde o sequestro e a natureza política da oposição ao regime militar”. Além disso, retirar o visto poderia causar reações negativas na imprensa e no governo.

O telegrama também reproduz parte da ficha de cada um dos sequestradores no FBI.

“De acordo com relatos da imprensa e arquivos do FBI, Paulo de Tarso Venceslau ajudou a planejar detalhes do sequestro, foi um dos passageiros no veículo usado para bloquear o carro do embaixador, rendeu o motorista e foi um dos que entrou no carro do embaixador e o escondeu. Enquanto o embaixador estava preso, Venceslau ajudou a montar a lista de 15 presos políticos que o grupo exigiu que fossem libertados”, diz o telegrama.

Clique aqui para ler a íntegra, em inglês.

Fonte: Blog da Natalia Viana

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