WikiLeaks: EUA queriam que Brasil ajudasse a espionar Chávez
Por Natalia Viana
Um telegrama secreto publicado hoje pelo WikiLeaks revela que em 2005 o embaixador americano propôs ao governo brasileiro “compartilhar inteligência” sobre o presidente da Venezuela Hugo Chávez.
A proposta foi feita durante uma reunião em 14 de março de 2005 entre John Danilovich e o ex-ministro das relações exteriores Celso Amorim. O embaixador abre a conversa dizendo que o governo americano se preocupa com a retórica e as ações de Chávez e o considera como uma “ameaça à região”. E prossegue: “Ele pediu que o ministro do exterior Amorim considere institucionalizar uma parceria política mais intensa entre o governo brasileiro e o americano em relação a Chavez, e assinar um acordo de compartilhamento de inteligência”.
Segundo o telegrama, Amorim foi direto ao rejeitar a aliança contra o venezuelano: “Não vemos Chávez como uma ameaça”, teria dito, antes de defender a “maneira democrática” como o venezuelano fora eleito e o seu apoio popular. “Nós temos que trabalhar com ele e não queremos fazer nada que estrague nossa relação”.
Lula sugeriu a Chávez “baixar o tom”
O chanceler teria explicado que a relação entre os dois países é “sensível” e que o Brasil não podia fazer nada que pudesse minar sua “credibilidade” perante Chávez, já que buscava “influenciá-lo em uma posição mais positiva”.
Um exemplo, segundo Amorim: Lula teria sugerido a Chávez, em uma reunião no Uruguai, que ele “baixasse o tom da sua retórica”.
Em outra ocasião, Lula teria persuadido o líder venezuelano a não nadar em uma praia chilena que ele queria reivindicar para a Bolívia perante a imprensa local. A Bolívia mantém uma disputa com o Chile sobre a sua antiga saída para o Pacífico, perdida para o país vizinho em 1879.
Apesar de rejeitar a proposta americana, Amorim teria dito que o governo gostaria de aumentar o diálogo sobre Chávez com os EUA e que se interessava em obter “qualquer inteligência” que os americanos quisessem fornecer.
No telegrama, Danilovich afirma que Amorim não “comprou” a ideia de que Chávez é uma ameaça à região e deve ser tratado como tal.
“A rejeição seca a compartilhar inteligência foi balanceada pela sua vontade de aumentar a colaboração conosco no nível político com relação à Venezuela, e nós devemos buscar maneiras de explorar essa abertura para defender nosso argumento de que o Chávez representa um perigo”.
“Fornecer mais informações detalhadas ao governo brasileiro sobre direitos humanos e ações repressivas dentro da Venezuela, bem como quaisquer informações sobre o que aprontam grupos apoiados pelo presidente da Venezuela em outros países (mesmo que signifique oferecer informações de inteligência unilateralmente) pode ser parte dessa colaboração política”.
Na mesma reunião, Amorim disse que Lula mantinha contato direto com Evo Morales, então líder da oposição, para convencê-lo a manter uma linha democrática. Amorim também se comprometeu a manter a “linguagem” do Conselho de Segurança da ONU na resolução da I Cúpula América do Sul-Países Árabes em 10 e 11 de maio de 2005.
Fonte: Blog da Natalia Viana / Carta Capital
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