domingo, 30 de maio de 2010

Revista conservadora alemã trata Lula como super-star


A revista conservadora alemã analisa o acordo do Brasil e da Turquia com o Irã.

E faz elogios rasgados ao Lula.

(O Conversa Afiada oferece esse post como singela homenagem aos notáveis colonistas (*) Monica  Bergamo e Ricardo Noblat. )

Der Spiegel :
“Lula Superstar

Com iniciativas sempre novas, o Presidente brasileiro conquista para seu país um peso cada vez maior no mundo. Seu golpe mais recente: convenceu os governantes do Irã de um acordo nuclear controverso – uma chance para evitar sanções e guerra?

Quais foram os palavrões com que ele, na altura, foi chamado: ele seria um comunista, um proletário grosseiro, um bêbado. Mas isso já faz parte do passado. Paralelamente à ascensão da nova potência econômica, o Brasil, sua reputação aumentou de forma surpreendentemente rápida; para muitos, o Presidente brasileiro vale como o herói do Hemisfério Sul, como o contrapeso mais importante de Washington, Bruxelas e Pequim.  A revista norte-americana “Time” foi um pouco mais longe, ao denominar-lhe, há duas semanas, o “líder político mais influente do mundo”, na frente de Barack Obama. Na sua pátria, ele já é considerado o futuro titular do Prêmio Nobel da Paz.
Agora, esse Luiz Inácio da Silva, 64, cujo apelido é “Lula”, filho de analfabetos que cresceu em uma favela, lançou novamente um golpe de mestre político: durante uma maratona de negociações, fechou com o governo iraniano uma acordo nuclear. Na segunda-feira passada, ele apareceu em Teerã triunfante, lado o lado com o Primeiro-Ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan e o Presidente Mahmud Ahmadinejad. Todos os três estavam convictos de que a questão das sanções da ONU contra o Irã, motivadas pelo possível programa iraniano de armas nucleares, teria passado, com isso, a ser história. O mundo ocidental, que tanto insistiu na radicalização das medidas internacionais de punição, parecia surpreso e sem ação.
O contra-ataque de Washington ocorreu já no dia seguinte, começando um novo capítulo do conflito iminente sobre o programa nuclear; Pequim, em particular, por muito tempo se opôs a uma atuação mais rígida. A Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, proclamou: “Em cooperação com a Rússia e a China, chegamos a um consenso sobre um projeto forte”. A planejada resolução sobre sanções será encaminhada para todos os membros do Conselho de Segurança da ONU – também para o Brasil e a Turquia. Atualmente, por um mandato de dois anos, esses dois países têm um assento não-permanente como membros eleitos nesse Conselho de 15 países, dos quais nove membros devem aprovar a resolução antes de poder entrar em vigor.
De maneira explícita, Clinton agradeceu a Lula por seus “esforços honestos”. No entanto, podia-se notar que ela considerava a iniciativa como algo que somente atrapalhava: “Sanções rígidas serão a mensagem inequívoca transmitida para o Irã sobre o que esperamos deles”. Porém, será que a abordagem menos confrontadora de Lula do conflito acerca do programa nuclear não é mais promissora? Será que Lula Superstar, com a retaguarda coberta por um país da OTAN, a Turquia, se deixaria refrear tão facilmente?
Quem conhece sua história, não apostaria nisso: esse homem sempre superou todos os obstáculos, contradizendo todas as probabilidades. Cedo, o pai abandonou a família, a mãe mudou com os oito
filhos do Nordeste brasileiro para o Sul industrializado para ter, pelo menos, uma chance de sobreviver. Só aos dez anos, o pequenino aprendeu a escrever e ler. Como engraxate e vendedor de frutas, ajudou a sustentar a família. Trabalhava em uma fábrica de tintas. Lutava para obter uma vaga de aprendiz como metalúrgico. Tinha 25 anos quando faleceram sua mulher e o filho comum que ainda não havia nascido, porque a família não tinha os meios suficientes para pagar o tratamento médico.
Ainda jovem, Lula virou militante político. Nos tempos da ditadura militar, organizou como sindicalista greves ilegais e, nos anos oitenta, várias vezes foi preso. Insatisfeito com a esquerda tradicional, ele fundou um partido próprio, o Partido dos Trabalhadores, que ele transformou, passo a passo, de um partido comunista em um partido social-democrata. Nas eleições presidenciais, sofreu três vezes uma derrota. No entanto, em 2002, conseguiu a vitória, com uma larga vantagem. Foram os pobres e miseráveis nesse país de contrastes econômicos extremos que depositaram sua esperança no líder proletário carismático. Os milionários já haviam abastecido seus jatos, temendo sua expropriação.
Porém, quem esperava ou acreditava em uma revolução ficou surpreendido. Lula, após tomar posse, levou os membros do governo para uma favela, e atenuou, por intermédio de seu programa abrangente “Fome Zero”, a miséria dos desprivilegiados. E não assustou os mercados. Preços elevados de matérias-primas e uma política econômica moderada, baseada em investimentos do exterior, bem como em recursos nacionais de formação e aprendizagem, permitiram a Lula renovar, em 2006, seu mandato.
Em dezembro, terminará o mandato de Lula, que não pode ser reeleito novamente. Do ponto de vista da política interna, ele fez muito bem seu dever de casa, construindo também a figura de sua possível sucessora no cargo. No entanto, o Presidente autoconfiante deixa seu legado mais nitidamente no ambiente da política externa: ele considera imprescindível conseguir para o Brasil, com seus 196 milhões de habitantes, um papel de grande potência mundial, conduzindo o país para um assento no Conselho de Segurança da ONU.
Lula reconheceu que, na busca deste objetivo, deve manter boas relações com Washington, Londres e Moscou. Porém, reconheceu também que contatos estreitos com países como a China, a Índia, países do Oriente Médio e da África talvez sejam ainda mais importantes. Ele se vê como homem do “sul”, como líder dos pobres e excluídos. E ele, naturalmente, também observa o deslocamento do equilíbrio: no ano passado, a República Popular da China, pela primeira vez, superou os EUA como parceiro comercial mais importante do Brasil.
Lula é o único governante de um país que se apresentou não apenas no exclusivo Fórum Econômico Mundial em Davos, mas também no Fórum Social Mundial, com posição crítica à globalização, em Porto Alegre. Sem parar, ele viaja pelo mundo, visitou 25 países somente na África, muitos na Ásia, na América Latina quase todos, sempre com uma comitiva empresarial ao lado. Está sempre proclamando sua crença em um mundo multipolar. E, sendo um orador muito carismático e um líder proletário “autêntico”, no mundo inteiro é saudado pelas massas como se fosse um pop-star. “I love this guy”, entusiasmou-se também, em 2009, o Presidente Barack Obama, por ocasião do encontro do G20 em Londres.
Hoje, Obama não está mais tão seguro, de jeito nenhum, que Lula é o “cara”. Cada vez mais autoconfiante, o brasileiro se distancia da Washington, e procura às vezes até a confrontação. Por exemplo, no caso de Honduras.
Historicamente, os EUA consideram a América Central o seu “quintal”. Por isso, ficaram muito surpresos quando Lula, no ano passado, ofereceu abrigo ao Presidente derrubado, Zelaya, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa e exigiu o direito de participar da solução do conflito. Brasília negou-se a reconhecer o novo Chefe de Estado e desta maneira se posicionou claramente contra Obama.
Em seguida, tudo aconteceu muito rápido. Lul viajou a Cuba, encontrou-se com Raúl e Fidel Castro e exigiu o fim imediato do embargo econômico americano. Lula comparou adversários do regime, que sofrem nas prisões de Havana, com criminosos comuns, o que deixou os anfitriões muito contentes. Lula também fez questão de aparecer em público com Hugo Chávez, que vive maldizendo Washington e censura cada vez mais a imprensa do país; na edição 20/2008 do Spiegel, Lula chamou o autocrata de “Melhor Presidente venezuelano dos últimos 100 anos”.
Quando há alguns meses recebeu Ahmadinejad em Brasília, elogiou a sua vitória eleitoral supostamente regular e comparou a oposição persa com torcedores de futebol frustrados. O Brasil também não permitiria intervenções alheias no seu programa nuclear “naturalmente pacífico”, disse. Apesar da solidariedade demonstrada, muitos estavam céticos quando Lula partiu para Teerã para negociar um acordo nuclear com o Irã – os iranianos, nos últimos meses, demonstravam pouca disposição para um acordo. Durante uma coletiva em Moscou, Medvedev avaliou as chances de um acordo mediado pelo Brasil de no máximo 30%, enquanto Lula disse “eu vejo uma chance de 99%”. Apareceu, nessa ocasião, novamente o ego explícito do homem que veio de baixo. “Ele se considera um curador que pode operar milagres em causas na quais outros fracassaram”, diz Michael Shifter, especialista dos EUA em assuntos latino-americanos.
Se depois de 17 horas de negociações em Teerã, realmente foi conquistado um êxito ou se o acordo é apenas “uma futilidade” (Frankfurter Allgemeine Zeitung) com a qual os iranianos espertalhões pretendem enganar o mundo mais uma vez, não ficou claro, somente há indícios. Em Viena, a AIEA comunicou cautelosamente que qualquer passo em direção a um acordo nuclear seria um progresso. Por determinação da ONU, os inspetores da AIEA são competentes para controlar instalações nucleares no mundo todo. Nos últimos tempos, encontraram cada vez mais indícios de um programa ilegal de armas nucleares do Irã e exigiram urgentemente que Teerã seja mais aberta à cooperação. Agora a conclusão dos especialistas de Viena, que nunca abandonaram as consultas com Teerã e que nunca insinuaram algo que não pudessem comprovar, será de grande peso. Que os iranianos pretendem comunicar o conteúdo do acordo à AIEA só “dentro de uma semana” é outro motivo para desconfiança.
Governos ocidentais se manifestaram de maneira muito crítica no sentido de que a resolução da ONU, publicada por Clinton imediatamente após o acordo de Teerã, serviria também para acalmar os israelenses. Alguns membros do governo de linha dura de Benjamin Netanyahu reclamam abertamente do “compromisso podre”, e o Ministro do Comércio Benjamin Ben Elieser opina que Teerã pretende “novamente fazer o mundo todo de palhaço”.
Uma avaliação bem interessante do documento Lula-Ahmadinejad-Erdogan foi feita pelo instituto americano ISIS, que sempre defendeu uma solução negociada e considera uma “opção militar” na questão nuclear iraniana impossível. Os especialistas nucleares independentes fazem uma relação detalhada de suas dúvidas e analisam os pontos fracos dos termos do acordo já conhecidos.  Os iranianos assumem apenas o compromisso de transportar 1200 kg do seu urânio pouco enriquecido para a Turquia para receberem em troca combustível nuclear para o seu reator de pesquisas de Teerã. As dimensões são iguais às de um negócio proposto pela AIEA em outubro do ano passado, o que na época significaria expedir mais de 75% do urânio já produzido para o exterior e impossibilitar a construção de uma bomba atômica – uma medida para criar confiança, uma pausa para negociações. O acordo atual não considera que o Irã, por causa das novas centrífugas em Natanz, deve dispor atualmente de 2300 kg de urânio; quer dizer que o país pode permanecer com quase a metade da matéria prima para a bomba atômica e dispõe de suficiente material para uma “investida” em direção à arma nuclear.
O acordo oferece, outrossim, uma via de escape decisiva. Aos governantes do Irã é concedido o direito de recuperar o urânio da Turquia se eles acharem que qualquer cláusula do contrato “não foi cumprida”. E o que é mais importante: o acordo não inclui o compromisso de terminar o enriquecimento de urânio – “nem sonhamos com isto”, disse um representante oficial. Mas é justamente isso que a ONU exige, já após três turnos de sanções, de maneira inequívoca. Lula não deve ligar muito para isto.
Ele demonstrou que virou um fator indispensável no palco internacional. Na terça-feira, o Presidente do Brasil foi festejado por seus amigos durante a Cúpula América Latina – UE em Madri por causa do seu engajamento pela paz. A sua apresentação demonstrou algo como “vejam, o molusco tem muitos braços”. E ele demonstrou que sabe nadar no aquário dos tubarões grandes. Nos bastidores, Lula Superstar costuma contar como curou os diplomatas brasileiros da síndrome de vira-lata; assim ele denomina o profundo complexo de inferioridade que muitos dos seus compatriotas até pouco tempo atrás sentiam frente a americanos e europeus. Foi em 2003, na grande estréia internacional de Lula na cúpula do G-8 em Evian na França. Todos estavam sentados no Hotel do congresso e esperaram por George W. Bush. Quando este finalmente entrou no salão, todos levantaram, só Lula ficou sentado e mandou o seu Chanceler fazer o mesmo. “Eu não participo deste comportamento servil” disse o Presidente do Brasil. “Quando eu entrei, também ninguém levantou.”

Paulo Henrique Amorim
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (*) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

Fonte: Conversa Afiada / Paulo Henrique Amorim

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Eduardo Guimarães: Dê nome aos bois, Noblat


Sobre essa discussão que envolveu o blogueiro da Globo Noblat e o Paulo Henrique Amorim, não me meto – ambos têm tamanho suficiente para resolver qualquer problema entre si. Contudo, o blogueiro global passa dos limites e se entrega à mais deslavada leviandade ao fazer acusações a “blogueiros de aluguel” que dele divergem, porém sem dar nome aos bois.

É uma tática bem canalha. Noblat alude a blogueiros de esquerda assumidamente simpáticos a Lula como eu, por exemplo, para afirmar, de forma melíflua, que o presidente  paga essas pessoas para opinarem. Se ele não dá nomes, todos são suspeitos. Principalmente os blogueiros que, por uma razão ou por outra, estiverem em maior evidência.

Noblat ainda insinua não gostar de cassações e de ditaduras, mas não sou eu que trabalho para uma organização golpista que nasceu, cresceu e enriqueceu pedindo golpe de Estado, apoiando a ditadura assassina de 1964 e dela recebendo montanhas de benesses amplamente conhecidas. É a essa gente que Noblat presta serviços.

Mas, enfim, escrevo por outra razão. É que quero propor ao Noblat que examine minhas contas bancárias, minhas contas telefônicas, meu imposto de renda, o que ele quiser. Só que terá que fazer o mesmo para mim. Quero ver tudinho, também.

Claro que estou só jogando conversa fora porque ele não aceitará este repto, pois se julga muito importante. Mas, de repente, resolve vir pra cima de mim e eu iria adorar, porque gostaria muito que ele provasse num tribunal que eu, ao menos, recebo alguma coisa de algum político, um único centavo de dinheiro público, qualquer coisa que não venha do meu trabalho honesto.

Escrevo isto porque, à diferença de Noblat, não tenho patrões. Posso opinar o que quiser, fazer o que quiser e assumir o que digo e escrevo, escandindo cada sílaba do nome de quem critico ou acuso, pois essa tática de ficar fazendo insinuações sobre gente sem nome é coisa de canalha.

Fonte: Blog da Cidadania / Eduardo Guimarães

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Acordo com Irã seguiu roteiro sugerido por Obama a Lula

Por Clóvis Rossi

O acordo nuclear entre Brasil, Turquia e Irã segue, ponto a ponto, todas as solicitações que o presidente Barack Obama expusera em carta a seu colega Lula em abril, revela reportagem de Clóvis Rossi, publicada nesta quinta-feira pela Folha

A Folha teve acesso a uma cópia da íntegra da carta, em que Obama "sugere caminho a seguir", datada de 20 de abril, apenas três semanas antes, portanto, da viagem de Lula ao Irã, da qual resultou o acordo.

É natural, por isso, que haja perplexidade na diplomacia brasileira com a reação negativa de Washington ao acordo, antes e depois de o Irã ter formalizado o entendimento por meio de carta à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).

Acordo

No último dia 17, Brasil, Irã e Turquia assinaram o acordo pelo qual Teerã se comprometeu a enviar 1.200 kg de seu estoque de urânio pouco enriquecido à Turquia, sua vizinha, para em um ano receber de volta 120 kg do material processado a 20% para uso em pesquisa médica.

Os EUA rejeitaram o pacto nuclear, apontando-o como uma estratégia do Irã para evitar novas retaliações da ONU devido a seu programa nuclear. Um dia após a assinatura do acordo, os EUA apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta para impor novas sanções ao país persa.

Turquia e Brasil e Irã pediram uma suspensão das discussões sobre as sanções por causa do acordo de troca de combustível, mas as potências ocidentais suspeitam que o acordo seja uma tática iraniana para evitar ou postergar as sanções.

O Ocidente teme que o Irã pretenda desenvolver armas nucleares, mas Teerã afirma que o seu programa tem fins pacíficos.

Nesta quarta-feira, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pediu que Obama aceite o acordo nuclear mediado por Brasil e Turquia. Segundo ele, o líder americano 'perderá uma oportunidade histórica' de cooperação com Teerã caso o rejeite.

Fonte: Folha de S.Paulo

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Marco Aurélio Garcia: País que fica de cócoras não é respeitado

do G1, via Vermelho

O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, defendeu nesta segunda-feira (24) a participação do Brasil na busca por uma solução negociada para o programa nuclear iraniano. Na semana passada, o Irã aceitou, após negociações com o governo brasileiro e da Turquia, um acordo que prevê a troca, em território turco, de urânio enriquecido por combustível nuclear.

No entanto, potências internacionais, principalmente os Estados Unidos, questionaram a eficácia do acordo e afirmaram que manteriam discussões sobre a aplicação de sanções ao país de Mahmoud Ahmadinejad.

Questionado se o papel do Brasil nas negociações com o Irã prejudicaria as relações com o governo norte-americano, Marco Aurélio Garcia disse que países que “expressam seus pontos de vista” são respeitados, ao contrário dos que “ficam de cócoras”.

“Acho que os países são respeitados quando eles expressam seus pontos de vista. País dócil, países que ficam de cócoras, governos que ficam de cócoras não são respeitados. Se transformam em moças de recado”, afirmou. “O Brasil não é moça de recado, o Brasil respeita os Estados Unidos, sabe o papel que os Estados Unidos têm no mundo, mas o Brasil tem suas opiniões”, disse Marco Aurélio.

O assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ainda que se o acordo não for levado em consideração e o Conselho de Segurança das Nações Unidas optar por adotar sanções contra o Irã haverá uma “passo atrás” na busca pela paz.

“Se neste momento temos a possibilidade de resolver [o impasse] por um canal diplomático, será ótimo, até porque o canal das sanções é visto que não resolve. A prova disso é que há quase 50 anos os Estados Unidos impuseram sanções a Cuba e nenhum dos objetivos perseguidos pelos EUA em relação a Cuba foi atingido”, disse.

Segundo Garcia, se o acordo com os iranianos não for cumprido será por decisão das potências internacionais.“Se esse acordo foi frustrado não foi frustrado nem pelo Brasil, nem pela Turquia, nem pelo Irã. Se houver frustração desse acordo, que eu espero que não exista, espero que haja sensatez de todas as partes, não terá sido responsabilidade nossa”.

No entanto, ele disse entender uma eventual decisão do Irã de descumprir o tratado feito com Brasil e Turquia se a ONU resolver aprovar uma nova rodada de sanções ao país islâmico. “Se o acordo não for aceito e se aplicar as sanções, acho normal [que o acordo não seja cumprido pelo Irã]”.

Amorim

O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, também defendeu a postura do Brasil de negociar com o Irã. Segundo o ministro, o governo brasileiro não assumiu o papel de interlocutor sem respaldo internacional.
“Eu sempre disse que nos não íamos entrar neste tipo de questão, ao contrário do que muitos pensam, levianamente, mas sempre procuramos ter em conta as opiniões dadas e as preocupações de vários países e eu diria, sobretudo dos Estados Unidos”, disse.

De acordo com Amorim, os EUA pediram a participação do Brasil no impasse com o governo iraniano. “Tenho dito sobretudo dos Estados Unidos porque o presidente [Barack] Obama foi o primeiro que pediu ao presidente Lula para se interessar por esta questão”, ressaltou.

Fonte: Vi o Mundo / Luiz Carlos Azenha

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terça-feira, 25 de maio de 2010

QUEM É ELA?

Por Valfran dos Anjos

A cada passo, a cada estudo, aumentam as minhas convicções sobre a capacidade extraordinária das mulheres, não apenas por serem a arca fecunda da criação, mas por serem os grandes baluartes da salvação dos seres humanos, desde os primórdios.

Reporto-me a Sefra (ou Séfora) e Fua, duas humildes parteiras egípcias que ousaram descumprir as ordens do faraó (Êxodo 1, 17) e, assim, contribuíram para o nascimento de Moisés. Descumprir ordens do faraó, do rei, isso é subversão, diríamos nós!

A mãe de Moisés, a irmã de Moisés, a filha do faraó e suas servas, todas mulheres (Êxodo 2, 1-10), arquitetaram e salvaram Moisés das garras impiedosas do faraó. Graças, portanto, a essas mulheres maravilhosamente terroristas, tivemos Moisés, aquele mesmo que ficou face a face diante de Deus no monte Horeb e recebeu do Pai Eterno os Mandamentos e as leis que ainda hoje fecundam os nossos corações.

Podemos citar a Tamar, aquela mulher corajosa que, a pretexto de deixar descendência para o seu falecido marido, se fez prostituir com o sogro Judá, sujeitando-se a morte por apedrejamento (Gênesis 38,6-26).

E que dizer de Raab, a prostituta de Jericó? (Josué 2,1-21 e 6,17.22-23.25). Raab conspirou contra o rei de Jericó para salvar os espias enviados por Josué. Raab, a terrorista de Jericó!

E Rute, lembra-se? Ester? Noemi? Betsabeia, mãe de Salomão?

Não vou citar nem a Virgem Maria. Mas, lembro a Maria Madalena! Aquela açogueira que vendia a carne de seu próprio corpo...!

Mulheres....!

Faço referência a uma mulher que por certo o leitor não conheceu: Dona Iaiá.

Agora veja: No início da década de 70, enquanto eu estava morrendo de medo, sem entender nada sobre o golpe militar de 1964, uma jovem sonhadora partiu para a luta, para o enfrentamento, em busca de liberdade, de igualdade e de fraternidade. Lutou contra tanques de guerra, foi presa, ferida e trucidada.

Embora encarcerada, os seus sonhos não foram aprisionados. Essa jovem, o nome dela? DILMA!

Alguém pode até chamá-la de terrorista. E assim o fazem os golpistas, os militares da época, a burguesia (a burguesia fede, disse aquele cantor Cazuza), todos esses a chamam de terrorista!

Eu, chamo-a de GUERREIRA!

Enquanto eu estava escondido, morrendo de medo, ela estava lutando por mim, inclusive!

Hoje, essa mulher tem a possibilidade de ser a nossa Presidente.

EU VOTO NA DILMA!

Voto na Dilma porque conheço o trabalho de D. Iaiá! A maior terrorista que já existiu na face da terra, pois teve a ousadia de dar-me à luz!

Voto na Dilma porque conheço a intrepidez de Maria Madalena, de Raab, de Tamar!

Voto na Dilma porque conheço a luta pela vida das parteiras egípcias!

Voto na Dilma porque conheço o trabalho de D. Lindu (mãe de Lula)!

Voto na Dilma porque conheço o trabalho de D. Marisa (esposa de Lula)!

Voto na Dilma porque conheço o trabalho da Dilma!

Voto na Dilma porque conheço o trabalho de muitas mulheres anônimas que defendem uma sociedade justa, fraterna e igualitária!

Voto na Dilma porque LULA é DILMA!

Voto na Dilma porque DILMA é PT!

Enfim, voto na Dilma porque ... por várias outras razões que, se me fosse permitido alinhar, todas as páginas da web e todos os espaços cibernéticos seriam insuficientes!.


Fonte: Blog do Giba Filho

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COMO MOSTRA A DIPLOMACIA BRASIL-TURQUIA, UM MUNDO MULTIPOLAR AJUDARÁ A REDUZIR O RISCO DE GUERRA

MARK WEISBROT
ESPECIAL PARA A FOLHA


Os esforços do Brasil e da Turquia para encontrarem uma solução negociada do impasse em torno do programa nuclear do Irã precisam ser vistos dentro do contexto de um desafio crescente à ordem política internacional.

Desde o final da 2ª Guerra Mundial, essa ordem política vem sendo dominada pelos Estados Unidos, com a Europa como parceira subordinada. A substituição do G7 (ou G8) pelo G20 é uma mudança importante, mas simbólica.
As alavancas do poder -como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial- ainda são controladas mais ou menos como eram quando foram criadas em 1944: pelo Departamento do Tesouro dos EUA, com alguma participação de potências europeias.

Do mesmo modo, os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm poder de veto sobre as decisões mais importantes das Nações Unidas , ainda são os aliados vitoriosos da 2ª Guerra, mais a China.
Após breve período de diálogo, a gestão Obama reverteu à política externa da administração Bush com relação ao Irã -e já o fez com relação à América Latina. Trata-se de uma política de ameaças e sanções aumentadas contra o Irã, o que intensifica o risco de confronto.

Contrastando com isso, Brasil e Turquia continuaram pelo caminho anterior e breve de diplomacia propugnado por Washington e fecharam um acordo semelhante ao que foi defendido/proposto pelos EUA em outubro.

Pelo acordo, o Irã enviaria 1.200 kg de urânio pouco enriquecido à Turquia. Após um ano, o Irã receberia 120 kg de urânio para seu reator de pesquisas médicas.

Segundo a Federação de Cientistas Americanos, as diferenças entre o acordo mediado por Brasil e Turquia e o proposto em outubro são pequenas. Apesar disso, a administração Obama está seguindo adiante com seu plano de aumentar as sanções contra o Irã.

Contrastando com isso, na sexta-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse esperar que o acordo "possa abrir a porta para uma solução negociada". Brasil e Turquia já conquistaram uma vitória importante pelo fato de terem assumido a liderança nesta questão. Mostraram ao mundo que é possível obter avanços por meio da negociação.

É claro que, como dizemos em Washington, nenhuma boa ação passa impune. A mídia ocidental, incluindo a maioria dos grandes veículos de mídia da América Latina, tende a fazer a cobertura das relações internacionais desde a perspectiva dos EUA.

Como Washington vem satanizando o Irã, a mídia ocidental apresenta uma visão exagerada e unilateral do país, mostrando-o como ameaça ao mundo. Aqueles que apoiam um mundo mais multipolar são acusados de serem "antiamericanos".

Mas, como mostra a diplomacia Brasil-Turquia, um mundo multipolar ajudará a reduzir o risco de guerra. É como passar de uma ditadura para uma democracia. E, na arena internacional, ela está abrindo a porta a um papel maior do Estado de direito, da diplomacia e a um maior progresso social.

MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net) e também presidente da Just Foreign Policy (www.justforeignpolicy.org).

De: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2505201004.htm

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Os interesses do Império e os nossos

Por Mino Carta

Ao ler os jornalões na manhã de segunda 17, dos editoriais aos textos ditos jornalísticos, sem omitir as colunas, sobretudo as de O Globo, me atrevi a perguntar aos meus perplexos botões se Lula não seria um agente, ocidental e duplo, a serviço do Irã. Limitaram-se a responder soturnamente com uma frase de Raymundo Faoro: “A elite brasileira é entreguista”.

Entendi a mensagem. A elite brasileira aceita com impávida resignação o papel reservado ao País há quase um século, de súdito do Império. Antes, foi de outros. Súdito por séculos, embora graúdo por causa de suas dimensões e infindas potencialidades, destacado dentro do quintal latino-americano. Mas subordinado, sempre e sempre, às vontades do mais forte.

Para citar eventos recentíssimos, me vem à mente a foto de Fernando Henrique Cardoso, postado dois degraus abaixo de Bill Clinton, que lhe apoia as mãos enormes sobre os ombros, em sinal de tolerante proteção e imponência inescapável. O americano sorri, condescendente. O brasileiro gargalha. O presidente que atrelou o Brasil ao mando neoliberal e o quebrou três vezes revela um misto de lisonja e encantamento servil. A alegria de ser notado. Admitido no clube dos senhores, por um escasso instante.

Não pretendo aqui celebrar o êxito da missão de Lula e Erdogan. Sei apenas que em país nenhum do mundo democrático um presidente disposto a buscar o caminho da paz não contaria, ao menos, com o respeito da mídia. Aqui não. Em perfeita sintonia, o jornalismo pátrio enxerga no presidente da República, um ex-metalúrgico que ousou demais, o surfista do exibicionismo, o devoto da autopromoção a beirar o ridículo. Falamos, porém, é do chefe do Estado e do governo do Brasil. Do nosso país. E a esperança da mídia é que se enrede em equívocos e desatinos.

Não há entidade, instituição, setor, capaz de representar de forma mais eficaz a elite brasileira do que a nossa mídia. Desta nata, creme do creme, ela é, de resto, o rosto explícito. E a elite brasileira fica a cada dia mais anacrônica, como a Igreja do papa Ratzinger. Recusa-se a entender que o tempo passa, ou melhor, galopa. Tudo muda, ainda que nem sempre a galope. No entanto, o partido da mídia nativa insiste nos vezos de antanho, e se arma, compacto, diante daquilo que considera risco comum. Agora, contra a continuidade de Lula por meio de Dilma.

Imaginemos o que teriam estampado os jornalões se na manhã da segunda 17, em lugar de Lula, o presidente FHC tivesse passado por Teerã? Ele, ou, se quiserem, uma neoudenista qualquer? Verifiquem os leitores as reações midiáticas à fala de Marta Suplicy a respeito de Fernando Gabeira, um dos sequestradores do embaixador dos Estados Unidos em 1969. Disse a ex-prefeita de São Paulo: por que só falam da “ex-guerrilheira” Dilma, e não dele, o sequestrador?

A pergunta é cabível, conquanto Gabeira tenha se bandeado para o outro lado enquanto Dilma está longe de se envergonhar do seu passado de resistência à ditadura, disposta a aderir a uma luta armada da qual, de fato, nunca participou ao vivo. Nada disso impede que a chamem de guerrilheira, quando não terrorista. Quanto a Gabeira, Marta não teria lhe atribuído o papel exato que de fato desempenhou, mas no sequestro esteve tão envolvido a ponto de alugar o apartamento onde o sequestrado ficaria aprisionado. E com os demais implicados foi desterrado pela ditadura.

Por que não catalogá-lo, como se faz com Dilma? Ocorre que o candidato ao governo do Rio de Janeiro perpetrou outra adesão. Ficou na oposição a Lula, primeiro alvo antes de sua candidata. Cabe outro pensamento: em qual país do mundo democrático a mídia se afinaria em torno de uma posição única ao atirar contra um único alvo? Só no Brasil, onde os profissionais do jornalismo chamam os patrões de colegas.

Até que ponto o fenômeno atual repete outros tantos do passado, ou, quem sabe, acrescenta uma pedra à construção do monumento? A verificar, no decorrer do período. Vale, contudo, anotar o comportamento dos jornalões em relação às pesquisas eleitorais. Os números do Vox Populi e da Sensus, a exibirem, na melhor das hipóteses para os neoudenistas, um empate técnico entre candidatos, somem das manchetes para ganhar algum modesto recanto das páginas internas.

Recôndito espaço. Ao mesmo tempo Lula, pela enésima vez, é condenado sem apelação ao praticar uma política exterior independente em relação aos interesses do Império. Recomenda-se cuidado: a apelação vitoriosa ameaça vir das urnas.

Fonte: Carta Capital

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Vi o Mundo: Emanuel Cancella: Lei do petróleo foi mudada para pior

PETRÓLEO – ELES ESTÃO MUDOS 

Por Emanuel Cancella 

Os partidos políticos, as centrais sindicais, os movimentos sociais e a mídia precisam se manifestar e se posicionar para garantir que a riqueza obtida com a exploração do petróleo na camada do pré-sal fique, de fato, no Brasil. A omissão agora, no momento em que está tramitando no Senado o marco regulatório, é crime. Vale registrar que a nova lei do Lula já foi totalmente modificada no Congresso Nacional e, por sinal, para pior, muito pior.

As emendas apresentadas são extremamente nocivas. A pergunta que se faz hoje é: você quer entregar o petróleo para quem, para as multinacionais ou quer fazer com que o Brasil enriqueça com a sua exploração? Não existe um terceiro lado. Chegou a hora de marcar posição e ir para as ruas. Muita gente só tem olhos para a eleição, principalmente a disputa pela presidência.

É verdade que alguns partidos, centrais e movimentos sociais apoiaram o projeto dos movimentos sociais, que propõe uma Petrobrás 100% estatal e pública, a volta do monopólio, o fim dos leilões da ANP e a revisão dos já realizados. Isso é um avanço, mas é pouco frente aos interesses de grupos internacionais, representados no Brasil por políticos entreguistas.

Há pouco tempo, o governador Sérgio Cabral puxou um movimento em defesa dos royalties chamado “Covardia contra o RIO” e que movimentou o Rio e o Brasil, tendo repercutido até no Congresso Nacional.
Foi uma resposta à emenda do deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, que propôs distribuir os royalties para todos os estados e municípios brasileiros, discriminando, porém, os estados e municípios produtores.

Agora, que a ameaça é a dos gringos levarem o nosso petróleo, ninguém fala nada! Nós, da Campanha o Petróleo Tem que Ser nosso! achamos que eleição é muito importante, porque vai decidir o destino do país nos próximos quatro anos. Mas sabemos que tratar do tema petróleo hoje significa discutir o Brasil para os próximos cinqüenta anos.

Já podemos imaginar o Brasil sanando todos os nossos problemas sociais, principalmente os da nossa população pobre, acabando com a miséria de nosso povo sem que para isso seja necessário pedir um centavo emprestado a organismos financeiros internacionais. Tudo com dinheiro do petróleo, principalmente do pré-sal. Aliás, os políticos dizem defender prioritariamente os mais necessitados, parafraseando Jesus Cristo, que fez, de fato, a opção pelos pobres.

Lula representa como ninguém o Brasil lá fora, mas quando chega a hora de defender nossos próprios interesses, a história é outra. No marco regulatório do petróleo, por exemplo, apesar de superar a lei entreguista de FHC, o governo só garante aos brasileiros 30% das reservas do pré-sal. Os outros 70% vão ser abocanhados, melhor dizendo, surrupiados pelas multinacionais.

Como diz o ator Paulo Betti em nosso filme da campanha do petróleo: “achamos um tesouro em nosso quintal e vamos entregar…” Acreditamos que a sociedade vá se levantar contra esse entreguismo. Isso porque, na década de 50, quando não existia televisão, internet e nem havia certeza da existência de petróleo no Brasil, o povo foi às ruas e organizou o maior movimento cívico que esse país já vivenciou.

O movimento “O petróleo é nosso!” foi responsável pela criação da Petrobrás e estabeleceu o monopólio estatal do petróleo. A Petrobrás fez a sua parte. Entre tantos êxitos desenvolveu tecnologia inexistente no mundo e descobriu o pré-sal. Será que toda essa luta de nosso povo seria para depois entregar, de mão beijada, o nosso petróleo aos gringos? Muito estranho o silêncio, principalmente dos partidos políticos, das centrais sindicais e dos movimentos sociais.

Grande parte da mídia sempre agiu assim, contra os interesses nacionais e, portanto, não é de estranhar sua omissão hoje. Só para refrescar a memória: a imprensa nacional aliou-se à ditadura militar, foi a principal articuladora da candidatura Collor, que se revelou um grande farsante e escondeu o quanto pode o movimento das Diretas Já! Parece que o Brasil, em detrimento de nosso povo, assumiu definitivamente a condição de quintal do mundo. Daqui já levaram todas nossas riquezas naturais, o petróleo é só mais uma. Vamos continuar a ser o país do futuro!

Fonte : Vi o Mundo / Luiz Carlos Azenha, com informações da Agência Petroleira de Notícias

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O DESESPERO DE ARRUDA SERRA – O GOLPE BRANCO

Por Laerte Braga

O candidato José Arruda Serra tomou conhecimento dos resultados da pesquisa do DATA FOLHA logo ao término do trabalho de campo. Teve um acesso de fúria, entre outras coisas, pela constatação que seria impossível manipular mais que já estava manipulado o crescimento da candidatura de Dilma Roussef.

O jornal FOLHA DE SÃO PAULO, braço do tucanato, começa a preparar um golpe branco na tentativa de inibir a participação do presidente da República na campanha de Dilma Roussef, candidata do seu partido, o PT.

Vai, certamente, ser uma discussão que se estenderá a toda a grande mídia, venal e ligada ao complexo, digamos assim, que pretende eleger José Arruda Serra e recolocar o Brasil na condição de protagonista de segunda categoria, adereço, de uma ordem política, econômica e social injusta.

Por que o presidente Lula não pode participar da campanha de Dilma Roussef?

Quando a primeira-ministra da Inglaterra Margareth Teatcher esteve no Brasil, o então senador Antônio Carlos Magalhães relatou a ela que em nosso país havia necessidade de desincompatibilização de ocupantes de determinados cargos para que pudessem concorrer a outros.

A resposta de Teatcher, baluarte da extrema-direita, logo, dos similares de PSDB, DEM, PPS, etc, foi que isso era uma bobagem, pois a atividade política é essencialmente partidária e desde que a máquina do Estado não seja usada tudo bem.

O pulo do gato, ou um dos pulos, está aí. Máquina do Estado não é a figura do presidente da República, filiado a um partido, eleito por esse partido e num leque de alianças comuns a um programa de governo.

O mesmo jornal FOLHA DE SÃO PAULO, num cochilo, publicou semana passada, notícia denunciando o ex-governador José Arruda Serra de, fora do governo, estar usando a máquina governamental para sua campanha.

O que está em debate é exatamente se o eleitor brasileiro deseja a continuidade do governo Lula, como programa de ação, ou o retorno aos tempos neoliberais de FHC na pessoa de José Arruda Serra.

E os interesses de grandes grupos econômicos internacionais associados à elite podre FIESP/DASLU, associam-se à candidatura do tucano José Arruda Serra.

É lógico que Lula tem que participar desse debate. E mais que isso, é lícito, é saudável para o processo democrático.

FHC pagou uma dívida de 250 milhões de dólares em 2002, dívida da REDE GLOBO, fez aprovar a emenda que permitia a presença de capital estrangeiro em meios de comunicação (rádio e tevê) do capital estrangeiro, como pré-condição imposta pela GLOBO para apoiar Serra.

Do contrário a empresa, o grupo continuaria a alimentar a candidatura de Roseana Sarney, àquela altura já liderando as pesquisas de opinião pública, nas costumeiras montagens do antigo IBOPE, hoje GLOBOPE.

Inibir ou proibir a presença de Lula na campanha eleitoral é um golpe branco. Fere de morte o processo democrático.

José Arruda Serra resolveu correr outra vez atrás do ex-governador de Minas, Aécio Neves, para ser o seu vice, como solução para a indigência eleitoral que se começa a desenhar.

Se há dois meses atrás a candidatura de Aécio poderia vir a representar alguma coisa, em termos de acréscimo eleitoral a Arruda Serra, hoje não significa nada. Minas já percebeu que Arruda Serra é o anti-Brasil e especificamente o anti-Minas.

Não me consta que Aécio com seu capital político vá ser vítima de um golpe, um conto do vigário, pratique haraquiri, suicídio político, a não ser que tenha perdido a sabedoria que herdou do avô, Tancredo, ou esteja disposto a ouvir os mineiros, através do voto, transmitirem um recado tipo “Aecinho, nós gostamos muito de você, mas desculpe, detestamos o Arruda Serra”.

Ao declarar que “o primeiro compromisso é com Minas”, o ex-governador sabia e sabe que o primeiro compromisso dos mineiros também é com Minas. Simples entender isso. A mineirice percebe o espertalhão, caso de José Arruda Serra e a mineiridade entende a importância de Minas para o Brasil.

Se Aécio não entender isso, paciência, azar de Aécio. Minas e os mineiros já entenderam.

Arruda Serra é um descalabro em si, por si, no que representa e no que traz consigo.

No programa PAINEL, da GLOBONEWS, conduzido pelo jornalista norte-americano naturalizado brasileiro, ou vice versa William Waak, o ex-chanceler de FHC, Horácio Láfer, deu a dimensão do governo FHC e de um eventual (felizmente cada vez mais difícil) José Arruda Serra.

Perguntado sobre porque tirou os sapatos e submeteu-se a uma revista no aeroporto de New York sendo chanceler, ministro de um governo amigo, disse que preferiu cumprir a lei a “dar uma carteirada”. Ou seja, caiu de quatro ali e continua de quatro aqui e agora.

É o que essa gente quer para o Brasil.

Será que Láfer, tido e apontado como intelectual, não percebe ou não conhece que os representantes de governos estrangeiros que se dirigem aos EUA para participar de eventos nas Nações Unidas estão garantidos pelo direito internacional? Que lhes assegura imunidade? O presidente do Irã esteve lá agora, discursou na ONU e não retirou os sapatos.

O gesto de Láfer e agora sua resposta dão a dimensão do caráter dessa gente, da subserviência, da condição de meros agentes estrangeiros desejosos de transformar o Brasil, hoje potência mundial e com um presidente reconhecido por unanimidade até por seus adversários como um dos maiores líderes contemporâneos, em colônia. Em adereço.

O desespero de Arruda Serra é o desespero da mediocridade, da corrupção, a proposta levantada pelo jornal FOLHA DE SÃO PAULO é típica de um jornal que mentiu no caso do currículo de Dilma, omite a denúncia contra o currículo de Arruda Serra, chama a ditadura militar (emprestou seus caminhões para a desova de cadáveres de presos políticos assassinados nos porões da tortura) de ditabranda e reflete a venalidade dessa mídia comprometida com interesses que não são os do Brasil e dos brasileiros.

Que tal por exemplo, já que gostam disso, investigar a saída de José Arruda Serra do estádio nacional de Santiago do Chile, preso que foi no dia do golpe contra Allende? Por que milhares foram executados, inclusive estrangeiros, brasileiros também entre eles, e Arruda Serra, num passe de mágica foi solto?

Vão chegar à conclusão que o embaixador dos EUA, por instâncias de FHC e do embaixador brasileiro (da ditadura militar) fizeram saber aos golpistas que “O Serra é um dos nossos, tem que soltá-lo, está disfarçado de esquerda”.

A falta de dignidade nessa gente é total. Absoluta.

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Ficha Limpa e a polêmica dos tempos verbais

Márlon Jacinto Reis*

Ganhou espaço na imprensa nos últimos dias uma polêmica absolutamente desnecessária.

Discutiu-se se a mudança do tempo verbal em alguns dispositivos da Lei da Ficha Limpa implicaria na impossibilidade de serem atingidas pessoas já condenadas nas condições descritas na lei. Emenda acolhida pelo relator alterou expressões como "os que houverem sido" para "os que forem".

Para alguns teria havido uma manobra para beneficiar determinadas pessoas. Na verdade, a emenda aprovada não alterou em absolutamente nada a aplicação da nova lei.

Os conhecedores do Direito Eleitoral sabem que é usual que na redação de hipóteses de inelegibilidade se empregue o verbo no futuro do subjuntivo. Basta ver que a própria Lei de Inelegibilidades (LI), alterada pela iniciativa popular, já utilizava esse tempo de conjugação.

Exemplo disso é o texto atual do art. 1º, I, g, da LI. Segundo o dispositivo "são inelegíveis os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas (...)".

Essa redação levou diversos candidatos a, logo após a edição da referida lei, questionarem a aplicação do dispositivo a casos passados. Resultado disso foi a sedimentação da jurisprudência no âmbito do Supremo Tribunal Federal no sentido de que, as hipóteses de inelegibilidade abarcam, sim, fatos ocorridos no passado.

Vejam o que decidiu o STF:

EMENTA: - CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. INELEGIBILIDADE. CONTAS DO ADMINISTRADOR PÚBLICO: REJEIÇÃO. Lei Complementar nº 64, de 1990, art. 1º, I, "g".
(...)

II. - Inelegibilidade não constitui pena. Possibilidade, portanto, de aplicação da lei de inelegibilidade, Lei Compl. nº 64/90, a fatos ocorridos anteriormente a sua vigência (MS nº 22087-2, Rel.: Min. Carlos Velloso).

Como se vê, basta que o Supremo Tribunal Federal siga aplicando a sua jurisprudência sobre o tema para que a Ficha Limpa deite seu impacto sobre os que já de amoldam aos perfis repelidos pela inovação legislativa de origem popular.

Não se trata de uma eficácia retroativa, o que só ocorreria se a nova lei permitisse a desconstituição de mandatos obtidos na vigência de outra lei, mas da simples aplicação dos novos critérios de inelegibilidade, sempre baseados na confrontação entre circunstâncias fáticas e o conteúdo da lei.

Mas isso não encerra a questão. No caso em debate há um argumento ainda mais forte para que não se considere o tal "tempo verbal" como uma salvação marota para pessoas que a sociedade não quer candidatos já neste pleito.

É que a Lei da Ficha Limpa prevê expressamente sua aplicação aos casos anteriores, o que fica claro quando se lê o seu art. 3º. Transcrevo:

Art. 3º Os recursos interpostos antes da vigência desta Lei Complementar poderão ser aditados para o fim a que se refere o caput do art. 26-C da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, introduzido por esta Lei Complementar.

Trata-se de norma de transição, voltada a explicitar o mecanismo pelo qual pessoas já condenadas por instâncias colegiadas antes da edição da lei devem agir se pretenderem obter o benefício na suspensão cautelar da inelegibilidade previsto no art. 26-C da Lei da Ficha Limpa.

Referido dispositivo assenta de forma incontestável a incidência da inelegibilidade sobre os que sofreram condenações anteriores à vigência da lei de iniciativa popular.

Há ainda um argumento definitivo, capaz de auxiliar na interpretação do âmbito temporal de incidência da inovação legislativa. Para isso, chamo a atenção do leitor para a redação do art. 1º, I, l, da Lei da Ficha Limpa. O dispositivo declara inelegíveis "os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena".

Como se vê, a vedação das candidaturas atinge não apenas as condenações recorríveis proferidas por órgãos colegiados, mas até mesmo condenações transitadas em julgado.

Se fosse possível interpretar o dispositivo de modo a considerar que o tempo de conjugação do verbo impediu a sua aplicação a fatos ocorridos no passado, chegar-se-ia à inadmissível conclusão de que até os condenados por decisão irrecorrível estariam igualmente elegíveis. Estaríamos diante de uma situação insustentável: a liberação da candidatura de condenados por decisões criminais, por improbidade e por abuso de poder econômico e político ainda que transitadas em julgado.

A Lei da Ficha Limpa - engendrada no seio da sociedade justamente para pôr fim à impunidade em matéria eleitoral - operaria como uma anistia ampla, geral e irrestrita a todos os atos que na vigência da Lei de Inelegibilidades já eram capazes de gerar algumas inelegibilidades.

Ou seja, a lei estaria sendo interpretada de um modo absolutamente inverso ao que motivou milhões de brasileiros e a unanimidade da Câmara e do Senado a vedar as candidaturas que a sociedade quis proibir.

A Campanha Ficha Limpa tem um sentido claro. A sociedade brasileira espera que suas normas sejam aplicadas desde logo, atingindo todos aqueles que estiverem incursos nas hipóteses delineadas na nova lei. Qualquer interpretação em sentido diverso ofende a imensa mobilização social que motivou as profundas alterações realizadas na Lei de Inelegibilidades.

*Juiz de Direito no Maranhão, Presidente da Abramppe - Associação Brasileira dos Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais.

Fonte: Grupo Cidadania Brasil

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