segunda-feira, 3 de maio de 2010

ASSISTIR À TELEVISÃO


Por Nélio Azevedo

Outro dia eu recebi um e-mail em que se alertavam para uma conspiração da Rede Globo para sabotar e destruir a família brasileira era um texto simplório e com propostas religiosas para enfrentar o apocalipse televisivo. Uma coisa é verdade, a baixa qualidade dos programas da TV aberta, principalmente os programas destinados ao que se habituou chamar de povão.
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Há um pressuposto de que o brasileiro mediano é um desaculturado, um incapaz mental e, que tem que ser uma programação medíocre para um povo medíocre. Seria o mesmo que usar o chavão – “Pra quem é bacalhau basta”!
Além de ser uma inverdade, é uma sacanagem que se faz contra um povo de uma cultura tão plural e tão rica. Basta assistir um pouquinho à TV Cultura que veremos lá uma gama de programas de alta qualidade com temas variados e com alta qualidade; sobre a nossa cultura, principalmente os documentários sobre a nossa música e folclore. O que mais espanta é que a TV Cultura é um subproduto das grandes redes de TV entidades patronais.

Diante desse rol de besteiras e bestialidades apresentadas diariamente na tela que invade nossas casas sem pedir licença, eu fico pensando nos seguintes questionamentos:
- Somos realmente um povo sem cultura?
- Nós merecemos esse nível de programas ou somos mais que bacalhau? (pescado sem cabeça)
- Será que a Rede Globo quer mesmo destruir a nossa cultura e família?
- Será que a banalização do sexo e da violência poderá moldar o caráter dos nossos filhos?
- Será que a tecnologia e as idéias aliadas à nossa cultura nos permitiriam ter uma programação              melhor?
- Será que os modismos ditados pela TV é que ditam o nosso dia-a-dia?
- Teriam mais uns mil, mas, vamos ficar só nesses por enquanto.

Acho que tem um pouco de verdade em todos eles, alguns macro-dimensionados, outros não são verdadeiros. Temos tantos exemplos de estrangeiros que vem passear aqui na Terra Brasílis e ficam apaixonados com o que encontram e alguns acabam por se mudarem para cá. Reclamam abertamente que em seu país – geralmente um país industrializado – as pessoas são muito frias e que o povo brasileiro é muito hospitaleiro e que isso aqui é o paraíso tropical imaginado.

Vejo um grande perigo na formação de opinião que esse fantástico veículo de comunicação de massa possa fazer, o padrão global é “roliudiano” e todos sabemos que não é uma das melhores coisas que se tem por lá; para tanto, basta ver o nível de porcaria que se produz com nome de grande produção em termos de cinema e programas de TV. Já li textos em que se recomendavam aos jornalistas que usassem sempre o termo terroristas quando fossem falar dos palestinos ou que se carregassem nas tintas quando o assunto fosse MST.

O brasileiro precisa parar com essa mania de pensar que não somos nada ou de que pouco valemos, precisamos melhorar nossa autoestima, olharmos para nós mesmos com um olhar diferente desse que tomamos emprestado de quem sempre nos olhou com um olhar de superioridade, de cima para baixo. Precisamos nos ver como realmente somos.

Por uma televisão que nos mostre menos BBB e mais feira de Caruaru, que nos mostre um Brasil que nós mesmos não conhecemos, nos apresente os regionalismos e particularidades que tanto atraem os visitantes que voltam ou teimam em ficar. Por uma televisão que tenha uma integração com os nossos traços culturais e valores mais significativos, que estampe sem pudor a nossa beleza morena, não ao padrão helênico imposto por Hollywood, que a nossa TV tenha a nossa cara e que nos reconheçamos nela a cada vez que ligarmos esse maldito-bendito aparelho.

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