sábado, 8 de maio de 2010

AVATAR

Por Nélio Azevedo

Depois de assistir ao filme Avatar, de James Cameron e achei a história meio fraca, idílica e romântica.

Os americanos adoram essas historinhas estilo Pocahontas; Me Tarzan, you Jane com uma boa dose de efeitos especiais com os clichês e estereótipos dos executivos desalmados e militares cabeça-de-prego.

Assim como Alien, Exterminador do Futuro, Predador e outras grandes produções, o mote é sempre o mesmo com algumas pequenas variações; uma mulher ou ex-fuzileiro que é bom em alguma arte marcial ou sabe tudo sobre o inimigo, que por sua vez é um bicho desconhecido que nada pode vencer e, quando os Seal ou os marines são chamados vai sobrar pra todo mundo e o fiasco é inevitável. Todo aquele aparato não vale nada diante do perigo.

O fato é que estou lendo o livro sobre a Blackwater, empresa que aluga mercenários a peso de ouro pra fazer o serviço sujo onde quer que os americanos estejam fomentando suas guerrinhas particulares. É a privatização da força de combate que serve de polícia internacional com forte apelo patriótico e encarna o papel de Cavaleiros da Luz numa cruzada religiosa pelo mundo afora, de preferência contra o islã.

Essa empresa, de propriedade do fanático religioso Erik Prince, já pode ser considerada como um dos maiores e mais poderosos exércitos do mundo, com milhares de soldados bem treinados, com farto material de última geração, que agora parte para ter sua própria aviação e marinha. Essa empresa ganhou fama e fez fortuna atendendo aos contratos firmados com empresas particulares e o Departamento de Estado Norte-americano e, sua trajetória no Iraque foi um verdadeiro desastre, com episódios em que se viu envolvida em massacres de civis iraquianos e de seus soldados que, diga-se de passagem, não estão sujeitos a processos criminais no Iraque.

Voltando ao filme Avatar, fico me lembrando da Guerra do Vietnam, país do sudeste asiático proprietário de jazidas de Molibdênio, Tungstênio e outros minerais raros que durante a guerra fria eram usados na fabricação dos caça americanos e, que de forma alguma poderia cair nas mãos de russos ou chineses, aliados das repúblicas populares da região.

Alguns filmes feitos na época da guerra, como “Corações e Mentes”; “Deer Hunter”; e, outros feitos depois: “Apocalipse Now”; “Platoon”; “4 de Julho” e Full Metal Jacket”, onde o ranço que os americanos nutrem pelos povos amarelos, árabes e latinos fica bem evidente através de suas piadinhas e das cenas de massacre que colocaram os EUA no banco dos réus do Tribunal Bertrand Russel, onde foram acusados de genocídio. São bons filmes porque mostram um enredo baseado no olhar que os americanos direcionam para ele mesmos, numa mea-culpa meio sem-vergonha que atende às expectativas da crítica e dá uma satisfação ao mundo.

A história é sempre a mesma, uma crise assola a economia norte-americana, eles elegem o inimigo da vez e, munidos de patriotismo e fé, partem para o pau contra quem quer que seja e esse país tem sempre algum recurso que vale muito no mercado internacional ou representa uma arma mais poderosa no campo da geopolítica. No caso do Iraque, fica evidente a necessidade de empreender uma guerra pelo controle da produção e comercialização do petróleo que não poderia cair nas mãos de chineses nem indianos.

Em Avatar o inimigo é a Mãe Natureza, um lugar perdido numa lua de Júpter que mais parece com a Amazônia, os macacos azuis são uma metáfora dos ianomâmis e o minério valiosíssimo está lá, esperando que a mão dos conquistadores venha pega-lo e, se preciso for, os tratores irão derrubar tudo, até os altares e paraísos naturais que por lá possam existir.

Se tivessem feito um filme sobre o Vietnam ou Iraque teriam levado o Oscar de melhor filme.

1 comentários:

josé henrique fialho,  10 de maio de 2010 às 09:00  

Nélio,

Data vênia, seu comentário sobre o filme Avatar, que você considera fraco, idílico e romântico, na realidade termina por glorificar o filme, que, contrario ao seu veredicto, considerei muito bom, dentro do que considero um ataque ao militarismo genocida do governo americano, que não respeita povos e consideram seus interesses acima do bem e do mal.

Obviamente, o ataque de Cameron à industria armamentista americana e seu desrespeito a povos e cultura, é claro no filme, e, ao contrário de que você pensa, se insere, no meu entender, na tradição dos filmes a que você alude, todos críticos à atuação americana no Vietnã. O filme não pode ser considerado simplesmente ao pé da letra como você fez. O fato de a aventura expansionista americana se dar em um paraíso "idílico" é só uma metáfora de todas - todas mesmas - incursões americanas que, em nome da civilização, barbariza países que são considerados estratégicos por eles, seja o petróleo, seja o ouro, seja o minério do planeta de Avatar.

Penso o contrário. Avatar perdeu o Oscar de Melhor Filme exatamente porque critica a selvageria americana, ao contrário do belicista "Guerra ao Terror", que ganhou o Oscar, não por suas qualidades que não existem - um mero filme de guerra anódino, inferior, como você sabe, a inúmeros filmes de guerra realizados pelos americanos, que, em nenhum momento, condena o ataque dos americanos ao Iraque. É um filme acrítico, e, por causa, acaba por referendar a ocupação do Iraque, um país dos homens maus, contra os "rapazes ingênuos" americanos, letais como as armas que portam. Não é à toa que o "herói" do filme não consegue viver em sociedade. Os americanos foram treinados para se tornarem guerreiros à serviço do expansionismo americano.

Avatar não é um filme sobre a Amazonia e os Ianomamis, é, sobretudo, um filme sobre a barbárie.

Atenciosamente,

Zé Fialho.

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