QUEM PRECISA DE TREM-BALA?
Por Nélio Azevedo
Outro dia eu ouvi o presidente Lula anunciando que estava perto de se concretizar a licitação para o Trem-bala, ligando Campinas - São Paulo - Rio. Fiquei pensando o quê que esse caríssimo empreendimento poderia trazer para o povo brasileiro.
O Brasil já teve uma boa rede ferroviária, que por ser de bitola estreita, ficou superada o lobby da indústria automobilística acabou por vencer e essa rede foi quase totalmente extinta. Todo mundo está careca de saber que o transporte ferroviário é o mais barato que existe e, um país de dimensões continentais como o Brasil, deveria seguir o exemplo dos EUA, Rússia, China e Índia, que têm invejáveis malhas ferroviárias. No caso dos EUA, o que é mais interessante é que eles têm a maior frota de caminhões do mundo e a maior malha ferroviária, com mais de 1 milhão de quilômetros de vias que cortam o país de norte a sul e de leste a oeste. A Rússia tem o famoso Trem Transiberiano que já vimos em filmes e documentários de fazer inveja.
A execução desse projeto ficaria em mais de 20 Bilhões de reais, acho que se empregassem esse dinheiro numa malha menos chic, daria para ligar esse país de norte a sul, leste-oeste e ainda sobraria alguma grana para aparelhar melhor os portos marítimos e fluviais e os aeroportos.
Esse trem-bala atenderia um número pequeno de pessoas que teriam poder aquisitivo suficiente para pagar as passagens enquanto que o trem mais simples poderia atender a um número muito maior de pessoas e poderia baratear o frete do transporte de cargas, promovendo uma integração maior dos estados da federação.
O Brasil tem uns 8 mil quilômetros de costa, no entanto, não temos navegação de cabotagem e, o que é mais estranho é que temos hoje a quinta maior indústria naval, com capacidade comprovada de produzir embarcações como o superpetroleiro que acaba de ser lançado em Suape, com 288 m.
Temos uma bacia hidrográfica de fazer inveja e, no entanto, quase não temos navegação fluvial ou lacustre, outro meio de transporte barato e que deveria ser incrementado com a construção de eclusas nas represas e seguir adiante o projeto que liga o Rio Tietê ao Rio Paraná, se tornando um canal para escoamento e exportação dos produtos do agronegócio.
Outra coisa que me deixa intrigado é que o Brasil com todo esse mar interior, consome menos pescado que outros países que não foram tão bem aquinhoados. Tirando a região amazônica, o pescado é muito caro e, não possuímos uma indústria nem uma frota pesqueira decente.
Não temos o hábito de comer peixe, um alimento saudável e que poderia suprir nossas necessidades diárias, no entanto, o que vemos é realmente uma coisa espantosa, nos supermercados encontramos o salmão, um peixe importado com o preço mais baixo do que o da tilápia, uma espécie rústica que não necessita de cuidados especiais na sua criação e engorda, come tudo que cai na água e ganha peso suficiente para o abate em muito pouco tempo. Poderíamos ainda popularizar a criação e o consumo de peixes oriundos do Amazonas, como o pacu e o tambaqui. Peixes como o dourado, piau e surubi têm preços proibitivos para a maioria do povo assalariado. Deveria existir um programa de reforço alimentar baseado no consumo de pescado e outros tipos de carnes como a de ovelhas e caprinos como o que existe no nordeste brasileiro, aliviando assim, a expansão da criação de gado bovino, tão prejudicial ao meio ambiente e, que só representa um grande negócio para os exportadores. Deveríamos seguir o exemplo da China onde existe a criação em consórcio de peixes e marrecos nas plantações de arroz de lâmina-d’água.
Um país de dimensões tão amplas como o Brasil deveria ter projetos de criação de hortas comunitárias, (já existiu antes) onde escolas e entidades beneficentes poderiam se beneficiar da produção e o excedente seria comercializado na comunidade. O Ministério da Saúde deveria implementar projetos desse tipo juntamente com outros ministérios, secretárias e a Embrapa, isso é uma questão do Estado e faz parte do programa de segurança alimentar.
Assisti um documentário na TV em que uma conhecida fábrica de sucos do nordeste oferecia às escolas da região nordeste, a poupa excedente do caju, já que a castanha tem mais valor que a polpa, as prefeituras só teriam que buscar essa oferta preciosa e rica em vitamina C, mas não houve interesse e as crianças que estudam na rede pública continuam assombradas pelo fantasma da desnutrição e da anemia.
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