domingo, 16 de maio de 2010

MULHER, CRIANÇA E ÍNDIO. CIDADÃOS DE 2ª CLASSE

Por Nélio Azevedo

Nesses tempos em que uma mulher pode ser eleita para o cargo de Presidente da República, eu fico pensando que há alguns anos atrás a gente ouvia dizer que mulher, criança e indígena eram tutelados. Nenhuma lei protegia essas pessoas integralmente, assistimos indolentes aos inúmeros massacres dos nossos pobres nativos, cultural e fisicamente. Vimos as mulheres conquistando direitos e lugares antes ocupados somente por homens, elas eram tratadas como incapazes, apesar de demonstrarem na prática que isso era só mais um mito, inventado por um homem, é claro.

A criança, sempre foi vítima de maus tratos e de opressões por parte do mundo dos adultos; ela continua numa condição terrível, principalmente se ela não nasceu em um lar bem estruturado e teve acesso a uma boa educação.

Quando queimaram aquele índio Pataxó em Brasília, fizeram até brincadeiras e contaram piadas com o evento, demonstrando uma insensibilidade intensa da nossa sociedade, vista antes diante do massacre de 115 presos no Carandiru ou nos 19 de Eldorado dos Carajás.

Hoje assistimos indignados aos relatos de crianças que foram molestados sexualmente por padres e pedófilos laicos, crimes que não são mais terríveis do que os crimes praticados ao longo dos séculos passados, e, que só teve um freio na virada do ano 2000 com leis que pôs fim ao perverso trabalho infantil; mas a fábrica de menores abandonados continua ativa e já vamos para a fase da vovó de rua, numa perpetuação do absurdo iniciado quando alguns menores foram identificados como pivetes e menores de rua, todos abandonados por adultos.

A mulher brigou por mais direitos durante o século 20 inteiro, primeiro pelo direito ao voto, depois pelo direito de estudar, depois pela liberdade sexual, pela livre escolha diante da concepção, pelo direito ao trabalho e agora pelos cargos mais importantes no mundo dos negócios e na política.

Hoje vemos a diferença entre os salários dos homens e das mulheres cair e sua competência ser reconhecida por grandes corporações chefiadas por quem usa saia.

A maior conseqüência advinda dessas conquistas, talvez não tenha sido o fato de que os homens deixaram de carregar o esteio do sustento familiar sozinhos, mas, também as transformações sociais acarretadas pela saída das mulheres da segurança do lar-doce-lar e ganho a rua, lugar onde os homens e seus iguais praticam a liberdade.

Essa noção de igualdade ainda anda meio de viés, muitos homens ainda relutam em aceitar essa semelhança e permanecem dentro dos comportamentos mais retrógrados e preconceituosos, mas já vemos mudanças significativas nesse sentido, de acordo com os avanços sociais registrados.

A presença da mulher no cenário do trabalho trouxe outras conseqüências: a criação dos filhos perdeu muito e os resultados estão aí. Vivemos numa sociedade onde os jovens atropelam as fases e são jogados num mundo de compensações materiais usados para aplacar a ausência dos pais e se tornam tão suscetíveis aos encantos do consumismo que os levam tanto ao shopping quanto ao túmulo precocemente. Infelizmente vemos as estatísticas nos dizer que os jovens são campeões em mortes por tiros, acidentes de trânsito, alcoolismo e consumo de drogas pesadas e, já são o grupo que mais cresce no ranking dos contaminados com o vírus HIV.

Esse processo, talvez não tenha mais volta e teremos que nos adaptar a ele e juntar os cacos de uma sociedade combalida e montar um novo cenário, onde o papel da família tenha um peso mais significativo, onde os pais se tornem mais presentes e tenham que dar menos presentes; precisamos construir um mundo com pessoas melhores para que o mundo não sinta tanta vontade de se ver livre de tantos, como solução. Uma sociedade onde homens, mulheres, crianças sejam os ingredientes formadores da célula mais importante nesse tecido que forma essa rede que chamamos humanidade.
 

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