Analistas dizem que PT perdeu força com governo Lula

Posição adotada pelo partido em momentos de crise contribuiu para este processo

Por Mônica Aquino, do R7

Mesmo com a conquista da Presidência da República com Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, a análise de cientistas políticos ouvidos pelo R7 é de que, a partir de então, o PT (Partido dos Trabalhadores) está em um processo de enfraquecimento. Leonardo Barreto, do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), considera que o chamado “lulismo” tornou-se muito mais forte que o tradicional “petismo”.

- Com certeza o “lulismo” é mais forte que o PT. Não houve um divórcio [entre Lula e o PT], mas as pessoas gostam muito mais do presidente do que do próprio partido. Ele se tornou uma figura tão gigante em termos de carisma, que só tem comparação com Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Apesar de o PT ser um dos partidos mais fortes do país – junto com PSDB e PMDB -, a tendência é que os eleitores simpatizem mais com uma figura política do que com uma legenda. Esta é a visão de José Paulo Martins Júnior, doutor em Ciência Política e professor da FESPSP (Faculdade de Administração Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

- Os brasileiros não se ligam em partidos. Mas dentre os que têm uma identificação, metade dos eleitores é petista. Só que o “lulismo” é muito mais forte [do que o PT].

A posição adotada pelo partido em momentos de crise contribuiu para este processo. Em 2005, quando o escândalo do mensalão abalou o governo e a estrutura do partido, a figura de Lula foi isolada da crise, explica Barreto. Para ele, o poder do “lulismo” foi produzido pelo próprio partido.

- Na época do mensalão, uma das estratégias adotadas pelo partido para poupar o Lula foi o sacrifício de algumas lideranças do partido e a ideia de que ele não sabia de nada. Isso acabou criando um distanciamento entre Lula e PT. O PT arcou com as consequências da crise política, enquanto o Lula foi poupado.

O escândalo do mensalão e a necessidade de costurar alianças partidárias igualaram o PT às outras legendas. Esta é a análise de Martins Júnior.

- Antes do governo Lula, o PT tinha uma aura diferente dos outros partidos, representava a ética na política. Depois que viraram governo, teve um enfraquecimento em termos ideológicos. Mas em termos de organização partidária, o PT se fortaleceu.

As alianças feitas com outros partidos para formar uma base de governo também contribuem para um processo de enfraquecimento partidário nos Estados e municípios. Em alguns Estados, militantes do partido defendem a candidatura própria do partido, o que poderia bater de frente com candidatos de partidos aliados do governo federal. Barreto explica:

- O argumento deles é que precisam fazer sacrifícios para ganhar a Presidência. Mas isso não significa que o PT vai se comportar como um carneirinho. Temos história de rebeldia, como foi o caso da prefeita de Fortaleza [Luizianne Lins, que lançou candidatura à prefeitura da capital do Ceará quando o presidente Lula apoiava Patrícia Saboya (PDT), candidata do aliado do governo, Ciro Gomes], que lutou contra tudo e todos [e conseguiu a reeleição em 2008]. A gente pode esperar algum tipo de conflito dentro do partido.

Fonte: R7