sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Política: Lambari exemplar

Por Mino Carta

Cesare battisti, eis aí. Esperava ter encerrado o assunto, mas como, a esta altura, fugir dele? O preso da Papuda diz a jornalistas italianos confiar na decisão final do presidente Lula sobre sua extradição. Parece que já não duvida de sua definitiva estada em solo nativo. E acrescenta que, de mais a mais, Berlusconi não o quer na Itália.

Battisti tem direito à esperança. Já quando fala do premier italiano há fortes probabilidades de que esteja certo: a Berlusconi pouco importa se o ex-terrorista volta ou fica. Quem sabe seja melhor que fique. Resta registrar o costumeiro, lamentável engano, a reclamar espaço no Festival de Besteiras que Assola o País desde sempre. Ou, ao menos, desde a risonha época em que Stanislaw Ponte Preta fustigava ridendo mores.

Talvez Battisti aposte, justamente, no Febeapá. Não custa, porém, repetir que a decisão do refúgio tomada pelo ministro Tarso Genro não afronta o governo de Berlusconi, como não afrontaria se houvesse outro em seu lugar. Ofende é o Estado italiano, e tanto mais quando o ministro afirmou que, extraditado, o ex-terrorista sofreria risco de vida. Donde a Itália, Estado Democrático de Direito, não teria condições de assegurar a incolumidade dos seus presos.

Ah, Berlusconi... Entra nas conversas de muitos que dizem militar nas fileiras da esquerda brasileira como se fosse ele o carcereiro depois de ter sido o juiz. Pois é, a célebre esquerda, esta específica esquerda nativa, cujo exato endereço desconheço, enquanto sei daquele do presidente Giorgio Napolitano, ou de Massimo D’Alema, de Piero Fassino e tantos outros de clara extração comunista.

O PCI condenou o terrorismo do chamados anos de chumbo, pela voz inclusive de Enrico Berlinguer, uma das maiores lideranças esquerdistas do século passado. Surpreende-me o ministro Franklin Martins que parece apoiar a tese do asilo a Battisti. Pois o ministro é perfeito exemplo da diferença, diametralmente oposta, entre os anos de chumbo lá deles e os nossos.

Martins empenhou-se até o último sangue contra a ditadura. Pretendia o retorno ao Estado Democrático de Direito, e a prova é a sua própria presença no governo do presidente Lula. Cesare Battisti visava a derrubada do Estado Democrático de Direito em nome dos interesses do proletariado, o qual não precisava dele: já tinha para defendê-lo o próprio PCI e sindicatos muito fortes. Também de outras tendências políticas além da comunista.

É bom que cidadãos como Martins estejam hoje onde estão. É bom, da mesma maneira, que o Ministério Público Federal aponte na direção de quem torturou ou ocultou cadáveres de pessoas assassinadas pela ditadura em diversos quadrantes do País (leia nesta edição a reportagem a respeito).

Algo que reclama atenção é a validade atribuída até hoje, por parte inclusive de juízes reputados, a uma infame Lei da Anistia, imposta pelo regime de exceção. Quem sabe esteja na hora de atirá-la ao lixo.
Eis o caminho correto. Na Itália, contra os terroristas das Brigadas Vermelhas, Prima Linea e similares, aqui contra o Terrorismo de Estado, como se deu na Argentina, no Chile e no Uruguai. De um lado e de outro, contra os inimigos da democracia. E reparem, neste mar Cesare Battisti é um lambari.

Fonte: Carta Capital

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