Retrato da campanha presidencial
A nova pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta semana sobre a sucessão presidencial insere, pela primeira vez, os nomes de José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV) na mesma lista de intenções de voto.
O resultado ilumina os desafios dos principais presidenciáveis: Serra e Dilma.
Apesar de liderar, o governador de São Paulo vê sua candidatura descer ladeira abaixo. E, talvez, esse seja o motivo pelo qual o tucano não tenha decidido anunciar se disputará a Presidência.
Ao comparar com pesquisas anteriores, Serra vive seu pior momento. Em setembro de 2008, de acordo com CNT/Sensus, com Ciro Gomes (PSB), Heloisa Helena (PSOL) e Dilma Rousseff, o tucano aparecia na liderança com 38,1% das intenções de voto.
Em março de 2009, em um confronto direto com Dilma, Serra tinha 53,5% e Dilma 21,3%. Vantagem de 32,2%. Hoje, Serra teria 46,8% e Dilma 28,2%.
Dilma tem motivos para comemorar. Sobretudo porque, diferentemente de Lula, a ministra não tem a simpatia da imprensa e, muito menos, consegue transmitir confiança para os formadores de opinião.
Por isso, seu desempenho é, no mínimo, animador. Mas a partir de agora, precisará caminhar com as próprias pernas. Terá que mostrar que entrou na corrida como protagonista. Não será uma tarefa fácil para uma candidata que tem um dos piores índices de rejeição: 34,4%.
Mas ela terá como cabo eleitoral um dos governos mais populares da história do País. A aprovação do presidente Lula passa por interminável, pelo menos aparentemente, ascensão, que foi de 76,8% para 78,9%.
Conforme a pesquisa, melhoraram as avaliações da população em relação ao emprego, renda mensal, saúde e educação.
O único item com retrocesso foi a segurança pública. Mas a maioria dos entrevistados (52,2%) enxerga melhora nos próximos meses.
A crescente onda de otimismo que toma a população reforça a credibilidade de Lula. Por esse motivo, uma parcela do eleitorado promete refletir se votará em candidato indicado por ele.
Segundo o levantamento, 20,1% dos entrevistados votariam em qualquer candidato apoiado por Lula.
Número dentro do intervalo de votos da ministra (entre 21,7% e 27,9%); 31,6% responderam que poderiam votar em um candidato indicado por Lula; e 27,4% afirmam que só votariam se conhecesse o candidato.
A maioria dos votos da ministra parece derivar do prestígio do presidente.
Para Serra, o desafio é disseminar o discurso do continuísmo, sem despertar no eleitorado o sentimento de desconfiança.
Trata-se, portanto, do aperfeiçoamento dos programas do governo. A imagem do tucano não parece ser antagônica à do governo Lula. Mas o desempenho se apresenta aquém do necessário.
Para Aécio, a definição da candidatura do PSDB em dezembro de 2009 é a melhor opção. Entretanto, se ele tivesse pretensões de disputar a vaga para o Palácio do Planalto, sua ida para o PSB seria inevitável.
Portanto, o Senado é seu destino mais provável.
As propagandas partidárias do PSDB que serão veiculadas em dezembro são uma oportunidade especial para decolar a candidatura tucana.
Pelo excesso de exposição gratuita, Serra e Aécio terão a última chance antes da guerra final, a qual o governo usará todas as armas para levar Dilma à cadeira de presidente, de provar que o brasileiro pode viver sem Lula.
O governador paulista pode usar o espaço para tentar retomar seu crescimento nas pesquisas. Porém, será importante oferecer espaço para que Aécio Neves se exponha nacionalmente e se apresente como alternativa viável caso Serra desista.
Por fim, a nova CNT/Sensus vem provar que Ciro e Marina têm capacidade para fazer barulho, mas nada que possa ameaçar a polarização entre petistas e tucanos.
Murillo de Aragão é cientista político
Fonte: Blog do Noblat
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