Nassif: Segundo Folha, quem exalta o Brasil é suspeito
O padrão é o mesmo da Veja – a quem a Folha segue fielmente. Trata-se de patrulhamento barato, de tentar constranger empresas, pessoas, jornalistas contra qualquer coisa que possa soar a favor do país. E nem se importe em confundir governo com país, já que o leitor não merece respeito.
A matéria abaixo foi encomendada para patrulhar empresas que passaram a utilizar temas ufanistas em seus comerciais. Pouco importa se o Brasil está sendo celebrado mundialmente por todos os jornais sérios, pouco importa se eventos recentes – como a sede das Olimpíadas – melhoraram a auto-estima do brasileiro, a ponto de comover até jornalistas da Globo. Empresas como a TAM e o Pão-de-Açucar historicamente usaram slogans sobre “o orgulho de ser brasileiro”. Mas pouco importa: a ordem é a prática reiterada do jornalismo tapioca.
Para esse pensamento político primário, ter orgulho de ser brasileiro significa fazer apologia do governo – confundem Nação com Estado e Estado com governo, em uma mixórdia analítica fenomenal.
Aí sai o repórter para levantar as campanhas e criticar as empresas. Como tem que cumprir ordens, mas sabe estar se expondo ao ridículo – e também não quer se queimar com suas fontes empresariais0 -, admite que o tema Brasil é válido. Aí vai entrevistar a agência que fez a campanha do Bradesco. O publicitário explica a lógica. E o repórter arremata com chave de ouro: ah é?, mas o Bradesco participa da Vale, que bateu de frente com Lula.
Durma-se com um jornalismo desses.
Da Folha
“Publicidade-exaltação” invade os comerciais de TV
Propaganda enaltece firmeza do país na crise e a capacidade de superação dos brasileiros
Novas peças publicitárias de empresas públicas e privadas usam governo Lula como garoto-propaganda e falam até em “momento de ouro”
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas aproveitam a popularidade do presidente Lula e o momento econômico favorável para fazer do governo seu garoto-propaganda.
Ambev, GM, Bradesco, Vale e Embratel produziram comerciais de televisão recentes enaltecendo a firmeza do país na crise, a capacidade de superação dos brasileiros, a harmonia entre o público e o privado e a relevância do país no mundo.
O Brasil é o país “da iniciativa privada em equilíbrio com o setor público”, diz a campanha televisiva “Presença”, do Bradesco, segundo maior banco privado brasileiro.
“Há dez anos, quem poderia imaginar a gente emprestando dinheiro para o FMI?”, lembra o anúncio televisivo do carro Aprile, da Chevrolet/GM.
“A crise foi passageira”, avisa comercial da maior siderúrgica do mundo, a Vale.
“O Brasil vive um momento de ouro”, exalta o comercial da Brahma, marca da Ambev.
Para as empresas e publicitários envolvidos nos comerciais acima, trata-se de uma estratégia legítima, lógica e antiga (leia texto nesta página).
De fato, não é a primeira vez que o setor privado exibe o otimismo do momento em campanhas publicitárias.
Do milagre econômico da ditadura -quando a Volkswagen exibiu um fusca desbravando o país da rodovia Transamazônica- às tentativas de estabilização da economia, várias campanhas seguiram essa linha.
O problema é distinguir marketing da simples adulação -em outras palavras, se o produto anunciado é o governo.
No passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) condenou toda a ex-diretoria da Petrobras em razão dos gastos da empresa com campanhas publicitárias mostrando os benefícios do Plano Real.
A questão fica menos óbvia quando os comerciais envolvem companhias 100% privadas com interesses no governo ou aquelas nas quais o Estado detém participação acionária.
O caso mais emblemático é o da Embratel, empresa de telefonia e de transmissão de dados adquirida em 1998 pelo grupo empresarial do bilionário mexicano Carlos Slim.
Em julho, a empresa veiculou um anúncio destacando um programa oficial para fornecer acesso à internet para escolas e centros comunitários em que a rede convencional não chega.
“Por iniciativa do Ministério das Comunicações, que executa o maior programa de inclusão digital da América Latina”, informava o comercial.
A empresa diz ter apenas creditado, no comercial, a autoria da iniciativa a quem a formulou -o governo, que a contratara para executar o programa.
São menos óbvias as implicações e motivações das campanhas de empresas como a Vale, o Bradesco, a Ambev e a GM.
Criador do comercial do Bradesco, Alexandre Gama, presidente da agência Neogama/ BBH nega motivação política.
“O Bradesco é o banco mais associado à base da pirâmide social, a mesma base cuja ascensão está na raiz da recuperação econômica do país”, afirma Alexandre Gama.
Curiosamente, no mês passado, o Bradesco foi pressionado a demitir o executivo Roger Agnelli da presidência da Vale -companhia da qual o banco é acionista e cuja campanha na TV também celebra o fato de o país ter escapado da turbulência internacional.
As pressões contra Agnelli decorreram justamente da falta de sintonia, alegada pelo presidente Lula, entre a política de investimentos da Vale e as prioridades do governo.
Fonte: Luis Nassif Online
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários são moderados. Os que contenham ofensas ou que não tenham relação com a postagem poderão ser excluídos.