A desconstrução de Serra
Por Ruy Fabiano, jornalista
PSDB e DEM protagonizam um comportamento inusitado em matéria de sucessão presidencial.
Possuem o candidato mais cotado nas pesquisas – o governador José Serra -, mas, em vez de incensá-lo, empenham-se inversamente em desconstruí-lo.
Serra, há mais de um ano, é o líder isolado nas pesquisas, com índices médios em torno de 40%, que representam mais que a soma de seus adversários, incluindo o tucano Aécio Neves.
Mas, mesmo assim, não sabe se será o escolhido para enfrentar Dilma Roussef.
O PT, ao contrário, diante de uma candidata com dificuldades notórias de decolar, absorve suas contrariedades internas e a apóia incondicionalmente.
Não surgiu até aqui – e é improvável que surja – algum nome alternativo à ministra dentro do partido ou da base governista. É a candidata de Lula e ninguém mais a discute. Trabalha-se por ela – e como.
Aécio Neves, além de insistir em disputar com Serra, alia-se a um dos maiores críticos do PSDB, o deputado Ciro Gomes (PSB), que não perde a oportunidade de repetir que o país deve aos tucanos um dos piores governos de sua história, o de FHC.
E acusa Serra de defeitos ainda piores que os do ex-presidente.
Apesar disso, Aécio oferece-lhe palanque privilegiado e ainda diz que, se vitorioso, quer tê-lo como parceiro. É uma equação complicada, que Aécio ainda não explicou – e não se sabe se terá como fazê-lo.
Todas as explicações que deu até aqui apenas complicam ainda mais a situação.
Como se não bastasse, o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, veio a público criticar Serra, manifestar sua preferência por Aécio. Seu pai, o ex-prefeito do Rio, César Maia, candidato ao Senado, faz-lhe coro, argumentando na mesma linha do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, que Aécio agrega mais alianças que seu oponente paulista.
E ainda: que Serra é um caudilho, ao querer impor ao partido seu próprio cronograma.
Lula não faria melhor, já que não dispõe da isenção crítica que somente os correligionários têm. Serra mantém-se em silêncio obsequioso. Não reage às críticas, nem antecipa sua decisão de candidatar-se.
Mas, se está calado, não está mudo. Reage nos bastidores, manifestando seu incômodo.
Na quarta-feira, um grupo de influentes lideranças do DEM reuniu-se em Brasília na residência do único governador do partido, José Roberto Arruda, para hipotecar apoio a Serra.
Munidos de pesquisas regionais, esses líderes constataram o óbvio: que a aliança PSDB-DEM não pode desprezar esse patrimônio eleitoral já instalado e partir para a construção de outra candidatura.
Para que se tenha uma idéia, pesquisa encomendada pelo PSDB ao Instituto Análise, restrita à Bahia, onde Lula é quase unanimidade, revelou que, no quesito transferência de votos, os sinais não são promissores para Dilma Rousseff.
O Instituto ouviu este mês mil pessoas em todo o estado. E o resultado foi surpreendente: embora 91% dos baianos considerem o governo Lula “ótimo” ou “bom”, apenas 26% apóiam Dilma.
José Serra lidera com 46% dos votos. Atrás de Dilma, vêm Ciro Gomes, com 12%, e Marina Silva, com 4%. No cenário em que Ciro não aparece como candidato, Serra chega a 53%, Dilma a 29% e Marina a 5%.
Configura-se aí o cenário temido pelo PT: Lula pessoalmente é imbatível, mas não como transferidor de votos.
Diante disso, a insistência em desconstruir Serra por parte de alguns aliados torna-se, mais que surrealista, suicida.
É o que deduziram democratas e tucanos reunidos em torno do governador Arruda.
Todos, porém, estão de acordo num ponto, que contraria Serra: a campanha já começou, Dilma está avançando e a oposição não pode esperar até março, como quer Serra. Ponto para Aécio.
Resta saber agora o que dirá o governador de São Paulo, diante de tal pressão. É improvável que continue a resistir. Também isso é suicídio eleitoral. E surrealismo.
Fonte: Blog do Noblat
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários são moderados. Os que contenham ofensas ou que não tenham relação com a postagem poderão ser excluídos.